Quem acompanha a página do Facebook da Raposa pode ter notado que ontem postei algo diferente. A ideia e proposta foi de uma amiga muito querida (a mesma responsável pelo meu cartão de visitas), então resolvi adotar como parte das minhas publicações. Aqui está o primeiro:
Que tal? Opiniões?
domingo, março 31, 2013
sábado, março 30, 2013
Amor de pai
Ontem escrevi sobre como minha mãe lidou quando descobriu que sofri (bastante) bullying na escola.
Nunca falei de sexo com o meu pai. Desde pequeno, eu era o filho mais próximo da mãe, enquanto meu irmão era o mais próximo do pai. Era meu irmão que saía para acompanhar os jogos de futebol dele. Eu era o filho que pedia papel pra ficar rabiscando e me enfiava num mundinho todo particular (e distante). Apesar de nunca termos falado de sexo, ou talvez por isso, algumas dúvidas surgiram. Eu era o filho que nunca falava de namoradas, que não indicava interesse pelo outro sexo, que estava sempre estudando e estudando. Teria isso diminuído o amor de pai?
Certa vez, na praia, meu irmão estava passando uns dias na casa de nosso pai. Areia, mar, sol, churrasco, essas coisas todas que tornam a experiência da praia algo animado e farofeiro. Em meio a tudo isso, meu irmão tinha que lidar com uma série de perguntas curiosas: "O Tales já namorou?", "Tu já viu o Tales com mulher?". O interesse por trás das questões era simples: será que ele é? (já falei sobre isso, também, aqui). Chegou ao ponto em que meu irmão se irritou, puxou meu pai para caminhar com ele e disse "Tá, chega, cansei, o Tales é gay e tem um namorado". Era verdade, eu estava namorando na época. Depois de tantas perguntas, acho que o silêncio não foi a resposta que meu irmão estava esperando. "E aí, não vai falar nada?", questionou. "Ué, minha irmã era lésbica, o que tu quer que eu diga?".
Desde esse dia, meu pai e eu ainda não falamos sobre nada a respeito de sexo. Se isso diminui o amor que sentimos um pelo outro? Não, com certeza não.
Nunca falei de sexo com o meu pai. Desde pequeno, eu era o filho mais próximo da mãe, enquanto meu irmão era o mais próximo do pai. Era meu irmão que saía para acompanhar os jogos de futebol dele. Eu era o filho que pedia papel pra ficar rabiscando e me enfiava num mundinho todo particular (e distante). Apesar de nunca termos falado de sexo, ou talvez por isso, algumas dúvidas surgiram. Eu era o filho que nunca falava de namoradas, que não indicava interesse pelo outro sexo, que estava sempre estudando e estudando. Teria isso diminuído o amor de pai?
Certa vez, na praia, meu irmão estava passando uns dias na casa de nosso pai. Areia, mar, sol, churrasco, essas coisas todas que tornam a experiência da praia algo animado e farofeiro. Em meio a tudo isso, meu irmão tinha que lidar com uma série de perguntas curiosas: "O Tales já namorou?", "Tu já viu o Tales com mulher?". O interesse por trás das questões era simples: será que ele é? (já falei sobre isso, também, aqui). Chegou ao ponto em que meu irmão se irritou, puxou meu pai para caminhar com ele e disse "Tá, chega, cansei, o Tales é gay e tem um namorado". Era verdade, eu estava namorando na época. Depois de tantas perguntas, acho que o silêncio não foi a resposta que meu irmão estava esperando. "E aí, não vai falar nada?", questionou. "Ué, minha irmã era lésbica, o que tu quer que eu diga?".
Desde esse dia, meu pai e eu ainda não falamos sobre nada a respeito de sexo. Se isso diminui o amor que sentimos um pelo outro? Não, com certeza não.
sexta-feira, março 29, 2013
Amor de mãe
Recebi da minha mãe por e-mail:
Ela se refere à postagem em que conto sobre a época que sofria bullying na escola. Não foi um período fácil para mim e eu não entendia nada daquilo, tampouco sabia que era algo que podia procurar ajuda. Nessas horas, a ignorância não é uma bênção. Não saber não é uma bênção, é uma maldição. Ainda por e-mail, respondi assim:Estava agora há pouco lendo uma das tuas postagens no blog e fiquei como de outras vezes tanto orgulhosa quanto triste e com uma sensação frustante de ter falhado com quem eu mais amo nessa vida. Orgulhosa como fico sempre que leio os teus textos, fato. Triste e/ou frustada por mais uma vez constatar que não estive presente quando mais precisaste de um apoio. Pois nesse caso eu que sempre me achei “sempre tão disponível” para qualquer coisa que pudesse precisar, justamente eu não consegui te passar essa disponibilidade. Então fico pensando, será que passo essa ideia tão forte de que não seria capaz de entender o que fosse que estivesse dentro do teu coração? Se não sabias ao certo, não poderíamos ter chegado a uma conclusão juntos? Serei eu tão, “fora de questão ser cogitada para uma conversa desse porte"? Eu não poderia entender? Com mãe não se fala isso? Então, se fala o quê? Abobrinhas? Quanto mais leio as coisas que escreves, tuas aventuras e desventuras, vejo o quanto estive, estou e por consequência sempre estarei fora da tua vida real. Isso me deixa com uma sensação enorme de vazio, uma tristeza que nem sei explicar. De qualquer forma eu precisava manifestar ao menos meu sentimento. Me sentir essa porta fechada não é agradável.
Mãe, as portas já estiveram fechadas, mas isso foi quando elas estavam trancadas também para mim. Se o texto sobre o qual tu está falando é o que penso, ele retrata um momento em que nem mesmo eu conseguia pensar sobre essas coisas, quanto mais levá-las adiante e tratar delas. Eu não conversava com ninguém sobre nada daquilo. Eu mal pensava naquilo, apenas guardava pra mim mesmo. Desde a nossa conversa em 2006 sobre meu (primeiro) namoro, sinto como se essa barreira tivesse sido levantada. Para mim foi muito complicado, inicialmente, mas nunca por acreditar que tu não pudesse saber, compreender ou participar, mas sim porque eu ainda estava contaminado com todo o medo e o ressentimento que o mundo me ensinou a ter sobre sexualidade. Hoje eu me sinto aberto para conversar contigo sobre o que for, sobre quem for, sobre o que me emociona e o que me distancia. Penso que, nas oportunidades que temos para estar juntos, falamos de coisas que sabemos que são só para os ouvidos um do outro e isso me deixa feliz por saber que tenho uma relação contigo que é a que sempre quis ter com qualquer pessoa que amo: de verdadeira amizade e confiança. Te amo, mãe!Levando minha vida, eu não tinha ideia dessa preocupação no coração da minha mãe, algo que muita gente enfrenta e tanta gente mais nem sabe o que é, pois não tem uma mãe capaz de se doer por não estar ainda mais na vida do filho. Eu tenho e, por mais que fique triste em saber que, de alguma forma, a deixei magoada, fico feliz em saber que ela está ali e que pode me escrever essas palavras, pois sabe que eu a amo e vou não só levá-las em consideração, mas também refletir a respeito e mudar minha vida baseado no que ela sente.
Nossa conversa foi encerrada por uma resposta dela:
O texto que resultou nesse desabafo foi depois de ler, creio o último, mas não foi só por ele, talvez por todos eles, pois me mostram algo que eu deveria ter percebido, quem sabe procurado. Ao mesmo tempo que “Eu” penso que quando a gente tem alguém que confia plenamente, é para essa pessoa que a gente corre e se aninha para se acalmar, se recuperar e se reenergizar para poder enfrentar as dificuldades da vida, também penso agora olhando um pouco para mim, que muitas vezes nossas aflições ficam tão grandes que a gente sequer ousa falar até para nós mesmos, que dirá para outros.
Tenho com minha mãe uma relação que é linda. Eu confio nela e sei que posso ir até ela para falar sobre absolutamente qualquer coisa. Sinto falta da sua presença no meu cotidiano, pois moramos em cidades distantes, mas a certeza desse amor é algo que me facilita viver. Eu sou uma raposa de sorte.
quinta-feira, março 28, 2013
O diabinho da interpretação
Recentemente um texto meu foi mal interpretado e coisas que eu não disse foram espalhadas. Mesmo a Raposa tendo um público bem pequeno, vez ou outra alguém comenta a respeito. Acho ótimo, principalmente quando as pessoas comentam sobre algo que eu de fato escrevi.
Toda a nossa relação com o mundo é definida pela maneira com que nós o percebemos e interpretamos. É claro que nossas capacidades fisiológicas de enxergar, ouvir, cheirar e processar informações em grande parte limitam aquilo que podemos ou não perceber. Entretanto, é a nossa capacidade de interpretação que dirá como nos relacionaremos com determinados tipos de conhecimento. Como melhorar nossa capacidade interpretativa? Penso em apenas um modo, que na verdade é tão complicado quanto interessante:
Leia mais o mundo
Parece estranho dizer assim, mas é o que nos falta na vida: leitura. Não só qualquer leitura, não sempre a mesma leitura. Ler o mesmo livro a vida inteira é se viciar nas mesmas perguntas e respostas, é limitar o campo de visão e as possibilidades de interpretação. O pensamento e a criatividade são organizados através de interações entre ideias, conceitos e possibilidades distintas entre si. É como cozinhar: se nossos ingredientes são sempre os mesmos, não faremos pratos diferentes.
Ler o mundo de outras formas é um desafio. Arrisco dizer que é uma vocação: nem todo mundo é leitor, nem todo mundo tem a curiosidade de desbravar o mundo. Explorar as narrativas da vida é um convite a se reescrever, mas esse é um exercício que nem todo mundo está interessado ou preparado para fazer. É um processo que dói, aprender, porque nos tira o centro, nos coloca em deslocamento, nos joga na incerteza de perceber que aquilo que sabíamos não é tudo que há para se saber. Para muitos, o conforto da certeza é a única forma de conseguir lidar com a vida.
Não são apenas livros que nos informam. São filmes, fotos, desenhos, pessoas, viagens, comidas, roupas, danças, festas, conversas, brigas, blogs, bulas de remédio, shopping centers, lojas, jornais, publicidades, brinquedos... Em cada um desses casos, nós temos no mínimo dois caminhos: nos fechar para a diferença e persistir com aquilo que acreditamos, ou abraçar a possibilidade de que o contato com o outro nos torne alguém um pouquinho diferentes. Isso é bom? Não sei, mas só podemos descobrir experimentando.
"Você quer armas? Nós estamos em uma biblioteca. Livros! As melhores armas do mundo" - Doctor Who |
Toda a nossa relação com o mundo é definida pela maneira com que nós o percebemos e interpretamos. É claro que nossas capacidades fisiológicas de enxergar, ouvir, cheirar e processar informações em grande parte limitam aquilo que podemos ou não perceber. Entretanto, é a nossa capacidade de interpretação que dirá como nos relacionaremos com determinados tipos de conhecimento. Como melhorar nossa capacidade interpretativa? Penso em apenas um modo, que na verdade é tão complicado quanto interessante:
Leia mais o mundo
Parece estranho dizer assim, mas é o que nos falta na vida: leitura. Não só qualquer leitura, não sempre a mesma leitura. Ler o mesmo livro a vida inteira é se viciar nas mesmas perguntas e respostas, é limitar o campo de visão e as possibilidades de interpretação. O pensamento e a criatividade são organizados através de interações entre ideias, conceitos e possibilidades distintas entre si. É como cozinhar: se nossos ingredientes são sempre os mesmos, não faremos pratos diferentes.
Ler o mundo de outras formas é um desafio. Arrisco dizer que é uma vocação: nem todo mundo é leitor, nem todo mundo tem a curiosidade de desbravar o mundo. Explorar as narrativas da vida é um convite a se reescrever, mas esse é um exercício que nem todo mundo está interessado ou preparado para fazer. É um processo que dói, aprender, porque nos tira o centro, nos coloca em deslocamento, nos joga na incerteza de perceber que aquilo que sabíamos não é tudo que há para se saber. Para muitos, o conforto da certeza é a única forma de conseguir lidar com a vida.
"Aprenda as regras como um profissional, para que você possa quebrá-las como um artista" - Pablo Picasso |
Não são apenas livros que nos informam. São filmes, fotos, desenhos, pessoas, viagens, comidas, roupas, danças, festas, conversas, brigas, blogs, bulas de remédio, shopping centers, lojas, jornais, publicidades, brinquedos... Em cada um desses casos, nós temos no mínimo dois caminhos: nos fechar para a diferença e persistir com aquilo que acreditamos, ou abraçar a possibilidade de que o contato com o outro nos torne alguém um pouquinho diferentes. Isso é bom? Não sei, mas só podemos descobrir experimentando.
quarta-feira, março 27, 2013
Alfabetismo erótico
Como você aprendeu a fazer sexo?
Quando criança, assisti a um pedaço de filme em que um casal de amigos se relacionava de diversas formas. Os dois tinham um estilo roqueirinho quase gótico, o rapaz mais do que moça, e tinham entre dezesseis e vinte anos. Ao começar a assistir, fui atraído pela beleza dos dois e foi isso que me prendeu por alguns minutos. Eles falavam sobre amor. Em certo momento, os dois decidem experimentar seus corpos – como amigos, embora a moça pareça ter mais interesse no rapaz do que ele nela – e nessa hora fica claro que o moço sente tesão por outros moços (o mais provável é que eles tenham falado sobre isso). Enquanto eles brincam e exploram seus corpos, a garota sobe no rapaz por trás e simula um pênis com os dedos, usando-os em conjunto com os movimentos de seu corpo para transar com o moço. O rapaz, em seguida, se recusa a prosseguir com a transa com ele próprio no papel de penetrante, o que leva os dois a discutirem.
Essas cenas estão marcadas na minha cabeça até hoje. Elas são de uma época em que eu não existia para o mundo e que, principalmente, não entendia meus próprios desejos. De um tempo em que eu acreditava que não haveria possibilidade nenhuma de explorar aquilo que me excitava (ah, as incertezas absolutas da adolescência!). Foi um período bastante longo da minha vida, verdade, mas também confuso. Minha relação com o bullying (muito frequente, constante e cruel) era dúbia: ao mesmo tempo que aquilo me machucava absurdamente, eu imaginava soluções que envolviam sexo. Até eu efetivamente transar pelas primeiras vezes, sexo era algo muito mágico e difícil de compreender, mas eu já entendia que ele tinha um poder de persuasão absurdo. Ou talvez apenas estivesse sendo ingênuo de novo.
Duas amigas estiveram no Museu de l'eròtica em Barcelona e lembraram de mim. Faz sentido, meu mestrado foi sobre sexualidade. Recentemente a autora do Cem Homens me perguntou por que eu decidi estudar sexualidade. Esse texto é muito provavelmente uma resposta.
Eu não entendia nada de sexo quando era criança. Masturbava escondido, frequentemente com imagens de homens. Meu irmão tinha filmes pornôs e minha avó tinha revistinhas com sexo explícito. Outra memória forte é do dia em que colocaram fora tudo isso e eu não consegui esconder rápido o bastante esse material todo. Corria para o quarto para folhear as revistas uma última vez, memorizando as histórias enquanto fingia que estava pegando mais coisas para jogar fora. Uma delas tinha um casal de rapazes que se relacionavam com a mesma mulher e, eventualmente, se relacionavam entre si. Eu me identificava com essa história, mesmo que não conseguisse dar nome para o que eu sentia.
Antes de transar pela primeira vez, eu já tinha uma ideia bastante complexa do que era sexo e como tudo deveria acontecer. Sexo, ora, pênis e bunda, pênis e boca, pênis e boceta. Nessa ordem. O que eu aprendia vendo filmes, pesquisando sites e lendo revistinhas, tudo escondido, era uma série de regras sobre como o ato sexual deveria acontecer, a importância de seus participantes e, principalmente, uma certa normatização: sexo é penetração. Sexo é masculino sobre o feminino. Ativo sobre o passivo. Mesmo depois de transar algumas vezes, ou mesmo muitas, eu ainda tinha dificuldade de mastigar a ideia de que sexo não é algo que se faz em alguém, mas sim com alguém.
Por muito tempo, eu fui um analfabeto erótico. Minhas primeiras incursões ao erótico eram rápidas, escondidas, proibidas. Ingênuas, inclusive. Era como aprender um idioma: ouvindo algumas expressões, até posso começar a entender algumas coisas por conta se tiver facilidade para a coisa. Porém seria muito mais fácil se alguém me desse a mão (e outras partes do corpo) e me ajudasse a vivenciar essas experiências. Para minha tristeza, eu nunca tive um perfil autodidata ou muito ativo na busca de novos conhecimentos por conta própria, o que certamente retardou meu acesso a experiências eróticas e sexuais.
Então me pergunto: será que tudo isso não tem a ver com a forma como as pessoas pensam o sexo? Se o erótico é um idioma, por que não temos escolas de idiomas que o ensinem? De alguma forma, quase todo mundo se relaciona de alguma maneira erótica com outros sujeitos, objetos ou ideias. A gente faz isso às cegas, sem orientação, sem entender direito, aprendendo pela experiência. É gostoso ir descobrindo? É sim. Poderia ser ainda melhor? É o que acredito.
Sexo na escola, por exemplo, são espermatozoides e óvulos. Desculpa, gente, mas isso é totalmente desconectado da sensação de uma mão percorrendo os pelos da tua perna e fazendo um misto de cócegas com tesão. Não tem nada a ver com a dúvida se aquele beijo será seguido por mais outro (no próximo segundo ou na próxima semana). Justamente por não ter nada a ver com como o sexo e o erótico são experimentados, a escola não consegue ensinar uma série de coisas que seriam importantes de se saber: que não é bacana abusar, que a proteção é responsabilidade de todos, que a mulher tem direito sobre seu corpo, que o prazer sexual não se resume ao pênis e à penetração...
É por isso que eu estudo sexualidade: porque eu sei que não tenho o menor poder de voltar ao passado e modificar a maneira como eu aprendi a ser eu, mas posso agir e talvez modificar a maneira como eu e as pessoas viverão seus futuros. É por isso que me dedico a não ser um analfabeto erótico e busco espalhar esse "idioma" por aí.
E, claro, porque é gostoso e pode ser muito mais.
Quando criança, assisti a um pedaço de filme em que um casal de amigos se relacionava de diversas formas. Os dois tinham um estilo roqueirinho quase gótico, o rapaz mais do que moça, e tinham entre dezesseis e vinte anos. Ao começar a assistir, fui atraído pela beleza dos dois e foi isso que me prendeu por alguns minutos. Eles falavam sobre amor. Em certo momento, os dois decidem experimentar seus corpos – como amigos, embora a moça pareça ter mais interesse no rapaz do que ele nela – e nessa hora fica claro que o moço sente tesão por outros moços (o mais provável é que eles tenham falado sobre isso). Enquanto eles brincam e exploram seus corpos, a garota sobe no rapaz por trás e simula um pênis com os dedos, usando-os em conjunto com os movimentos de seu corpo para transar com o moço. O rapaz, em seguida, se recusa a prosseguir com a transa com ele próprio no papel de penetrante, o que leva os dois a discutirem.
Essas cenas estão marcadas na minha cabeça até hoje. Elas são de uma época em que eu não existia para o mundo e que, principalmente, não entendia meus próprios desejos. De um tempo em que eu acreditava que não haveria possibilidade nenhuma de explorar aquilo que me excitava (ah, as incertezas absolutas da adolescência!). Foi um período bastante longo da minha vida, verdade, mas também confuso. Minha relação com o bullying (muito frequente, constante e cruel) era dúbia: ao mesmo tempo que aquilo me machucava absurdamente, eu imaginava soluções que envolviam sexo. Até eu efetivamente transar pelas primeiras vezes, sexo era algo muito mágico e difícil de compreender, mas eu já entendia que ele tinha um poder de persuasão absurdo. Ou talvez apenas estivesse sendo ingênuo de novo.
Duas amigas estiveram no Museu de l'eròtica em Barcelona e lembraram de mim. Faz sentido, meu mestrado foi sobre sexualidade. Recentemente a autora do Cem Homens me perguntou por que eu decidi estudar sexualidade. Esse texto é muito provavelmente uma resposta.
Eu não entendia nada de sexo quando era criança. Masturbava escondido, frequentemente com imagens de homens. Meu irmão tinha filmes pornôs e minha avó tinha revistinhas com sexo explícito. Outra memória forte é do dia em que colocaram fora tudo isso e eu não consegui esconder rápido o bastante esse material todo. Corria para o quarto para folhear as revistas uma última vez, memorizando as histórias enquanto fingia que estava pegando mais coisas para jogar fora. Uma delas tinha um casal de rapazes que se relacionavam com a mesma mulher e, eventualmente, se relacionavam entre si. Eu me identificava com essa história, mesmo que não conseguisse dar nome para o que eu sentia.
Antes de transar pela primeira vez, eu já tinha uma ideia bastante complexa do que era sexo e como tudo deveria acontecer. Sexo, ora, pênis e bunda, pênis e boca, pênis e boceta. Nessa ordem. O que eu aprendia vendo filmes, pesquisando sites e lendo revistinhas, tudo escondido, era uma série de regras sobre como o ato sexual deveria acontecer, a importância de seus participantes e, principalmente, uma certa normatização: sexo é penetração. Sexo é masculino sobre o feminino. Ativo sobre o passivo. Mesmo depois de transar algumas vezes, ou mesmo muitas, eu ainda tinha dificuldade de mastigar a ideia de que sexo não é algo que se faz em alguém, mas sim com alguém.
Por muito tempo, eu fui um analfabeto erótico. Minhas primeiras incursões ao erótico eram rápidas, escondidas, proibidas. Ingênuas, inclusive. Era como aprender um idioma: ouvindo algumas expressões, até posso começar a entender algumas coisas por conta se tiver facilidade para a coisa. Porém seria muito mais fácil se alguém me desse a mão (e outras partes do corpo) e me ajudasse a vivenciar essas experiências. Para minha tristeza, eu nunca tive um perfil autodidata ou muito ativo na busca de novos conhecimentos por conta própria, o que certamente retardou meu acesso a experiências eróticas e sexuais.
Então me pergunto: será que tudo isso não tem a ver com a forma como as pessoas pensam o sexo? Se o erótico é um idioma, por que não temos escolas de idiomas que o ensinem? De alguma forma, quase todo mundo se relaciona de alguma maneira erótica com outros sujeitos, objetos ou ideias. A gente faz isso às cegas, sem orientação, sem entender direito, aprendendo pela experiência. É gostoso ir descobrindo? É sim. Poderia ser ainda melhor? É o que acredito.
Sexo na escola, por exemplo, são espermatozoides e óvulos. Desculpa, gente, mas isso é totalmente desconectado da sensação de uma mão percorrendo os pelos da tua perna e fazendo um misto de cócegas com tesão. Não tem nada a ver com a dúvida se aquele beijo será seguido por mais outro (no próximo segundo ou na próxima semana). Justamente por não ter nada a ver com como o sexo e o erótico são experimentados, a escola não consegue ensinar uma série de coisas que seriam importantes de se saber: que não é bacana abusar, que a proteção é responsabilidade de todos, que a mulher tem direito sobre seu corpo, que o prazer sexual não se resume ao pênis e à penetração...
É por isso que eu estudo sexualidade: porque eu sei que não tenho o menor poder de voltar ao passado e modificar a maneira como eu aprendi a ser eu, mas posso agir e talvez modificar a maneira como eu e as pessoas viverão seus futuros. É por isso que me dedico a não ser um analfabeto erótico e busco espalhar esse "idioma" por aí.
E, claro, porque é gostoso e pode ser muito mais.
terça-feira, março 26, 2013
Vamos conhecer algo diferente hoje?
Hoje decidi fazer um texto diferente. Estou empenhado em escrever diariamente, mas nem sempre o tempo facilita essa organização, portanto não cheguei à frente do computador com um tema em mente. A solução? Conversar com uma imagem. O método foi simples: joguei a palavra "imagem" no Google Imagens e selecionei a primeira que me chamou a atenção. Sim, há um certo componente de privilégio para as primeiras imagens, como sempre – vocês sabiam que a maioria das pessoas não procura além das primeiras ou segundas páginas de resultados em suas pesquisas, limitando consideravelmente as respostas que encontramos para nossas perguntas? –, mas hoje esse texto não vai se debruçar muito sobre privilégios e abusos.
Um tucano. Pesquisando no dicionário, descobri que há um grupo de índios que atende por essa denominação. Pesquisando no Youtube, descobri que tucanos não só são bichos muito esquisitos, mas também são fofos demais. Quase troco meu desejo de ter um cachorrinho (não, o de ter uma raposa continua firme e forte) pelo de ter um tucano. Será que eu posso ter um tucano?
Fiquei aqui quase dois minutos com cara de abobado. Conclusão: alguns dias a gente não está para escrever, apenas para ver e viver.
Um tucano. Pesquisando no dicionário, descobri que há um grupo de índios que atende por essa denominação. Pesquisando no Youtube, descobri que tucanos não só são bichos muito esquisitos, mas também são fofos demais. Quase troco meu desejo de ter um cachorrinho (não, o de ter uma raposa continua firme e forte) pelo de ter um tucano. Será que eu posso ter um tucano?
Fiquei aqui quase dois minutos com cara de abobado. Conclusão: alguns dias a gente não está para escrever, apenas para ver e viver.
segunda-feira, março 25, 2013
O que a vida tem a ver com a culinária
Há uns meses, comprei o livro Cozinha básica para leigos enquanto estive em São Paulo. De lá para cá, tenho me aventurado muito na culinária.
Quando comecei a lê-lo pela primeira vez, o livro se mostrava instigante, mas difícil. Muitas das suas ideias me eram estranhas, por mais básicas que ele fossem. Eu não tinha muitas experiências pessoais com as quais pudesse comparar o que estava lendo, o meu repertório não era trabalhado o suficiente para me permitir uma interação bacana com a leitura. Hoje, meses depois, quase um ano, sou um cozinheiro melhor, mas meus pratos ainda são básicos, repetitivos. Rotineiros.
O que a vida tem a ver com a culinária? Ora, o que é a rotina se não a repetição dos mesmos métodos de cozinhar e a pequena (senão nula) variação de ingredientes? Todo dia eu faço arroz ou massa, eventualmente acrescento um tomate ou palmito no prato, e cozinho alguma carne (gado, frango ou porco) numa panela. Deixo a carne crua lá com óleo e cebolas picadas e algumas vezes alho, ela solta água e cozinha nela mesma até secar e ficar gostosa. Sim, é gostoso, mas cansa. A vida é a mesma coisa.
Relendo o livro, percebi que os primeiros capítulos são dedicados às ferramentas e aos ingredientes que usamos para cozinhar. O argumento é direto: se tivermos diversos itens e temperos, poderemos fazer composições saborosas. Muitas vezes cozinhamos com pressa e precisamos jogar com o que temos na despensa ou na geladeira. Se tudo o que temos é o que tínhamos semana passada, como esperar que essa semana os sabores sejam diferentes? A vida é a mesma coisa.
É ingenuidade acreditar que existam infinitas combinações para arroz e feijão. Nosso repertório cresce com a novidade, com a diferença, com aquilo que ainda não conhecemos. Se fazemos tudo igual, como poderemos esperar que o nosso prato seja diferente do que vem sendo?
Se falamos sempre com as mesmas pessoas, realizamos os mesmos trabalhos, visitamos apenas determinados lugares... Dá realmente para esperar que a vida seja mais do que um macarrão instantâneo?
Quando comecei a lê-lo pela primeira vez, o livro se mostrava instigante, mas difícil. Muitas das suas ideias me eram estranhas, por mais básicas que ele fossem. Eu não tinha muitas experiências pessoais com as quais pudesse comparar o que estava lendo, o meu repertório não era trabalhado o suficiente para me permitir uma interação bacana com a leitura. Hoje, meses depois, quase um ano, sou um cozinheiro melhor, mas meus pratos ainda são básicos, repetitivos. Rotineiros.
O que a vida tem a ver com a culinária? Ora, o que é a rotina se não a repetição dos mesmos métodos de cozinhar e a pequena (senão nula) variação de ingredientes? Todo dia eu faço arroz ou massa, eventualmente acrescento um tomate ou palmito no prato, e cozinho alguma carne (gado, frango ou porco) numa panela. Deixo a carne crua lá com óleo e cebolas picadas e algumas vezes alho, ela solta água e cozinha nela mesma até secar e ficar gostosa. Sim, é gostoso, mas cansa. A vida é a mesma coisa.
Relendo o livro, percebi que os primeiros capítulos são dedicados às ferramentas e aos ingredientes que usamos para cozinhar. O argumento é direto: se tivermos diversos itens e temperos, poderemos fazer composições saborosas. Muitas vezes cozinhamos com pressa e precisamos jogar com o que temos na despensa ou na geladeira. Se tudo o que temos é o que tínhamos semana passada, como esperar que essa semana os sabores sejam diferentes? A vida é a mesma coisa.
É ingenuidade acreditar que existam infinitas combinações para arroz e feijão. Nosso repertório cresce com a novidade, com a diferença, com aquilo que ainda não conhecemos. Se fazemos tudo igual, como poderemos esperar que o nosso prato seja diferente do que vem sendo?
Se falamos sempre com as mesmas pessoas, realizamos os mesmos trabalhos, visitamos apenas determinados lugares... Dá realmente para esperar que a vida seja mais do que um macarrão instantâneo?
domingo, março 24, 2013
O desinteresse dos outros não é problema meu
Meu fim de semana foi zen. Ontem e hoje passei aprendendo a aplicar Shiatsu. Tenho ainda muitas aulas antes de ser certificado, mas os primeiros passos foram dados. Retomar o contato com filosofias orientais (medicina chinesa, fitoterapia, shiatsu) também está fazendo com que eu volte a olhar o mundo com lentes diferentes das tipicamente ocidentais. Daí vem esse texto: eu não sou responsável pelo (des)interesse alheio.
É difícil aceitar isso, porém não podemos esquecer que se tudo está em relação, então não apenas os professores devem fazer um movimento em direção aos alunos, mas os estudantes também precisam fazer um movimento na direção dos professores. Se essa interação não acontece, por que o aprendizado aconteceria?
Da mesma forma, se eu percebo desinteresse por parte das outras pessoas frente a algo que estou lhes oferecendo, tenho basicamente duas opções. Tenho agido muito com base na primeira: ficar irritado, chateado, preocupado, encucado etc. Quando percebo o desinteresse alheio, me mordo e caço modos de aprender como desfazê-lo. O desinteresse dos outros me incomoda. Isso me leva à segunda opção, que envolve me perguntar: por que o desinteresse dos outros me incomoda? Ele não é meu, é dos outros, então por que me afeta tanto?
Percebam que não estou falando em não me esforçar para ser uma pessoa melhor ou para construir experiências mais edificantes para mim e para os outros (no caso, meus alunos). Trata-se, na verdade, de assumir que não tenho controle sobre o que os outros sentem ou deixam de sentir mesmo nos momentos em que estão comigo. Eu não tenho esse poder. Eu posso tentar, e tento, mas isso não significa que posso mudar algo na disposição dos outros.
O que eu posso e me prometo daqui pra frente é perceber aquilo que me afeta e tentar entender o porquê. O que de mim está investido na expectativa de que meus alunos saiam extasiados da minha sala de aula? O quanto do meu ego está projetado sobre os outros, dependendo da validação dos outros? Quão injusto é colocar a responsabilidade pela minha felicidade sobre o ombro dos outros? Como bem sabia o Buda, a origem do sofrimento é o desejo. É hora de praticar um pouco de desapego.
http://i-moc.com/wallpaper/2012/09/-Ninjas-Yin-Yang-Pirates-New-Hd-Wallpaper--.jpg |
É difícil aceitar isso, porém não podemos esquecer que se tudo está em relação, então não apenas os professores devem fazer um movimento em direção aos alunos, mas os estudantes também precisam fazer um movimento na direção dos professores. Se essa interação não acontece, por que o aprendizado aconteceria?
Da mesma forma, se eu percebo desinteresse por parte das outras pessoas frente a algo que estou lhes oferecendo, tenho basicamente duas opções. Tenho agido muito com base na primeira: ficar irritado, chateado, preocupado, encucado etc. Quando percebo o desinteresse alheio, me mordo e caço modos de aprender como desfazê-lo. O desinteresse dos outros me incomoda. Isso me leva à segunda opção, que envolve me perguntar: por que o desinteresse dos outros me incomoda? Ele não é meu, é dos outros, então por que me afeta tanto?
Percebam que não estou falando em não me esforçar para ser uma pessoa melhor ou para construir experiências mais edificantes para mim e para os outros (no caso, meus alunos). Trata-se, na verdade, de assumir que não tenho controle sobre o que os outros sentem ou deixam de sentir mesmo nos momentos em que estão comigo. Eu não tenho esse poder. Eu posso tentar, e tento, mas isso não significa que posso mudar algo na disposição dos outros.
O que eu posso e me prometo daqui pra frente é perceber aquilo que me afeta e tentar entender o porquê. O que de mim está investido na expectativa de que meus alunos saiam extasiados da minha sala de aula? O quanto do meu ego está projetado sobre os outros, dependendo da validação dos outros? Quão injusto é colocar a responsabilidade pela minha felicidade sobre o ombro dos outros? Como bem sabia o Buda, a origem do sofrimento é o desejo. É hora de praticar um pouco de desapego.
sábado, março 23, 2013
Meu primeiro dia no curso de Shiatsu
Ando procurando algo. Sinto que, na minha vida, há bastante coisa que está fora de lugar. Algumas sensações estão mais fortes do que deveriam, algumas questões não estão sendo bem atendidas. Daí nasceu o desejo de abrir uma editora, como mencionei em textos anteriores. O desejo continua, mas engavetei-o por ora. Aí hoje começou o meu curso de Shiatsu.
Shiatsu significa pressão dos dedos. É uma técnica de massagem terapêutica baseada na medicina chinesa e na regulação da energia (ki) através do nosso corpo. Envolve pressionar o corpo com os dedos, as palmas das mãos, os cotovelos, os joelhos, as pernas etc. Hoje fiquei das 9h às 17h aprendendo alguns princípios e possibilidades do Shiatsu e posso me dizer apaixonado. Amanhã tem mais e depois ainda haverão mais três fins de semana, um por mês.
Não é nenhuma cura mágica, nenhum poder sobrenatural de agir sobre o corpo dos outros. Não vou pressionar nenhum ponto que cure o câncer. Ainda assim, envolve uma filosofia de cuidar de si e do outro e de atentar a quem está na nossa frente que dialoga muito o que tenho pensado recentemente. Ando refletindo sobre a possibilidade de estudar psicologia e, dentro de alguns anos, atuar em clínica. Penso, com esse meu apreço por filosofia oriental, que poderia trabalhar com alguma linha da psicologia que não se prendesse unicamente na fala, mas que respeitasse e envolvesse também o corpo.
Em meio a isso tudo, ficou uma dúvida na minha cabeça: existe uma linha da psicologia que trabalhe também com o corpo?
http://www.shiatsu-bienetre.fr/shiatsu%20033.jpg |
Shiatsu significa pressão dos dedos. É uma técnica de massagem terapêutica baseada na medicina chinesa e na regulação da energia (ki) através do nosso corpo. Envolve pressionar o corpo com os dedos, as palmas das mãos, os cotovelos, os joelhos, as pernas etc. Hoje fiquei das 9h às 17h aprendendo alguns princípios e possibilidades do Shiatsu e posso me dizer apaixonado. Amanhã tem mais e depois ainda haverão mais três fins de semana, um por mês.
Não é nenhuma cura mágica, nenhum poder sobrenatural de agir sobre o corpo dos outros. Não vou pressionar nenhum ponto que cure o câncer. Ainda assim, envolve uma filosofia de cuidar de si e do outro e de atentar a quem está na nossa frente que dialoga muito o que tenho pensado recentemente. Ando refletindo sobre a possibilidade de estudar psicologia e, dentro de alguns anos, atuar em clínica. Penso, com esse meu apreço por filosofia oriental, que poderia trabalhar com alguma linha da psicologia que não se prendesse unicamente na fala, mas que respeitasse e envolvesse também o corpo.
Em meio a isso tudo, ficou uma dúvida na minha cabeça: existe uma linha da psicologia que trabalhe também com o corpo?
sexta-feira, março 22, 2013
Como ser um bom aluno
Quando comecei a estudar francês de novo, semana passada, decidi que seria o aluno que eu gostaria de ter. Essa é, aliás, a dica número um para qualquer coisa que envolva relação com outras pessoas: seja o que você gostaria que os outros fossem para você (na mesma situação). Parece meio óbvio, mas não é comum nos colocarmos no lugar do outro e nos permitirmos sair dos nossos umbigos pra pensar nisso.
Quem são os alunos que dão tesão em ser professor? São aqueles que interagem. Alunos que interagem com o professor tornam o seu trabalho mais significativo e provavelmente também a sua aprendizagem. Quando um estudante levanta a mão e fala, ele provavelmente estará demonstrando algum tipo de interesse. Se esse interesse não for por ir ao banheiro ou para ir embora mais cedo, então há a grande chance do sujeito estar interessado no conteúdo que o professor está passando. Isso é bem legal.
Professores são seres humanos. Gostam de conversar com seres humanos. Gostam de se sentir importantes. Quer ser um bom aluno? Converse com os professores. Parece simples, e é! O que o professor faz em sala de aula é trazer experiências que possam agregar à vida do estudante. Nem sempre serão experiências e conteúdos do interesse de todos, muitas vezes só de um ou dois. Ainda assim, o estudante que conversa com o professor dentro e fora do espaço de aula (nos intervalos, por exemplo) estabelece uma conexão afetiva que vai facilitar a aprendizagem. Se não facilitar inicialmente, vai deixar mais fácil de ir até o professor depois e dizer na cara dura "puxa, a aula hoje foi complicada, não entendi nada".
Sim, ainda existem pessoas bobas que acham que dar aula é ser o máximo e ficar na frente de uma sala falando falando falando e sendo ouvido e comandando. Não é o meu caso: eu não me sinto melhor que nenhum estudante, o meu papel ali é de providenciar experiências compartilhadas. Momentos de interação que possam fazer com que os sujeitos deem passos na direção do conteúdo que eu ministro. Eu não ensino nada. Eu tento que as pessoas aprendam. Para mim, aprender tem tudo a ver com se relacionar, e professores como eu amam se relacionar, então fica a dica.
Salve(m) os humanos |
Quem são os alunos que dão tesão em ser professor? São aqueles que interagem. Alunos que interagem com o professor tornam o seu trabalho mais significativo e provavelmente também a sua aprendizagem. Quando um estudante levanta a mão e fala, ele provavelmente estará demonstrando algum tipo de interesse. Se esse interesse não for por ir ao banheiro ou para ir embora mais cedo, então há a grande chance do sujeito estar interessado no conteúdo que o professor está passando. Isso é bem legal.
Professores são seres humanos. Gostam de conversar com seres humanos. Gostam de se sentir importantes. Quer ser um bom aluno? Converse com os professores. Parece simples, e é! O que o professor faz em sala de aula é trazer experiências que possam agregar à vida do estudante. Nem sempre serão experiências e conteúdos do interesse de todos, muitas vezes só de um ou dois. Ainda assim, o estudante que conversa com o professor dentro e fora do espaço de aula (nos intervalos, por exemplo) estabelece uma conexão afetiva que vai facilitar a aprendizagem. Se não facilitar inicialmente, vai deixar mais fácil de ir até o professor depois e dizer na cara dura "puxa, a aula hoje foi complicada, não entendi nada".
Sim, ainda existem pessoas bobas que acham que dar aula é ser o máximo e ficar na frente de uma sala falando falando falando e sendo ouvido e comandando. Não é o meu caso: eu não me sinto melhor que nenhum estudante, o meu papel ali é de providenciar experiências compartilhadas. Momentos de interação que possam fazer com que os sujeitos deem passos na direção do conteúdo que eu ministro. Eu não ensino nada. Eu tento que as pessoas aprendam. Para mim, aprender tem tudo a ver com se relacionar, e professores como eu amam se relacionar, então fica a dica.
segunda-feira, março 18, 2013
Uma simples segunda-feira
Postei hoje no Facebook:
Acontecimentos do dia (sem ordem particular)
- Ouvi o lindo Jorge Drexler inúmeras vezes;
- Terminei um livro ("A vida sexual da mulher feia", da Claudia Tajes);
- Tomei chá de cidreira (infância mandou oi);
- Tomei suco de laranja numa lancheria enquanto lia (acho cult);
- Perdi um ônibus (onde ele foi parar?) e outro passou sem parar pela parada (será que eles não entendem o conceito de 'parada'?);
- Acordei bem mais tarde do que eu planejava, mas trabalhei com mais foco do que eu costumo;
- Comprei frutas pra abastecer a geladeira e peguei panfleto pra voltar a nadar (tá, para ver os preços da natação, enfim).
Isso tudo e muito mais cabe numa segunda-feira!
Acontecimentos do dia (sem ordem particular)
- Ouvi o lindo Jorge Drexler inúmeras vezes;
- Terminei um livro ("A vida sexual da mulher feia", da Claudia Tajes);
- Tomei chá de cidreira (infância mandou oi);
- Tomei suco de laranja numa lancheria enquanto lia (acho cult);
- Perdi um ônibus (onde ele foi parar?) e outro passou sem parar pela parada (será que eles não entendem o conceito de 'parada'?);
- Acordei bem mais tarde do que eu planejava, mas trabalhei com mais foco do que eu costumo;
- Comprei frutas pra abastecer a geladeira e peguei panfleto pra voltar a nadar (tá, para ver os preços da natação, enfim).
Isso tudo e muito mais cabe numa segunda-feira!
sexta-feira, março 15, 2013
Como agem os alunos
Esta semana foi esquisita porque passei todo doente e, de quebra, voltei a ser aluno. Estou participando de um curso de francês com dois encontros semanais. Eu realmente quero aprender francês e tenho dificuldade com a disciplina necessária para ser autodidata, portanto fazer um curso é o que considero a melhor opção.
Ao final do encontro desta quarta-feira, uma colega comentou qualquer coisa como "nossa, teremos poucos feriados nas segundas e quartas, que saco!". Aí surgiu aquela dúvida de sempre: por que alguém está pagando por um curso que gostaria que não acontecesse? Mais feriados equivalem a menos francês.
Essa é a mesma coisa que eu não entendo sobre meus estudantes. Na maior parte do tempo, eles se comportam como se não quisessem estar na sala de aula, como se eles estivessem me prestando um favor em me ouvir e seguir as orientações. Consigo entender esse comportamento até o fim do Ensino Médio porque até lá os estudantes são obrigados a serem estudantes. Faculdade, porém, não. Curso de idiomas? Não. É tudo uma questão de como vamos ocupar o nosso tempo e quais são as nossas prioridades.
Sei bem que ter dezoito anos e saber o que são prioridades – ou melhor, saber administrar as prioridades e deixar de lado algumas coisas bem legais por alguns momentos que nem sempre são tão legais – é complicado. Assim como sei que esse é o tipo de coisa que a gente só percebe numa tarde chuvosa de domingo olhando para a rua e pensando em como as coisas poderiam ter sido melhor aproveitadas.
Talvez aí esteja uma explicação (parcial) sobre por que algumas pessoas alcançam mais coisas que outras.
Ao final do encontro desta quarta-feira, uma colega comentou qualquer coisa como "nossa, teremos poucos feriados nas segundas e quartas, que saco!". Aí surgiu aquela dúvida de sempre: por que alguém está pagando por um curso que gostaria que não acontecesse? Mais feriados equivalem a menos francês.
Essa é a mesma coisa que eu não entendo sobre meus estudantes. Na maior parte do tempo, eles se comportam como se não quisessem estar na sala de aula, como se eles estivessem me prestando um favor em me ouvir e seguir as orientações. Consigo entender esse comportamento até o fim do Ensino Médio porque até lá os estudantes são obrigados a serem estudantes. Faculdade, porém, não. Curso de idiomas? Não. É tudo uma questão de como vamos ocupar o nosso tempo e quais são as nossas prioridades.
Sei bem que ter dezoito anos e saber o que são prioridades – ou melhor, saber administrar as prioridades e deixar de lado algumas coisas bem legais por alguns momentos que nem sempre são tão legais – é complicado. Assim como sei que esse é o tipo de coisa que a gente só percebe numa tarde chuvosa de domingo olhando para a rua e pensando em como as coisas poderiam ter sido melhor aproveitadas.
Talvez aí esteja uma explicação (parcial) sobre por que algumas pessoas alcançam mais coisas que outras.
terça-feira, março 12, 2013
Por que devemos verificar a fonte do que lemos
Li uma notícia hoje sobre como o deputado Jean Wyllys teria criticado os cristãos, chamando-os de burros e coisas assim. De antemão, já aviso: é uma notícia falsa. O problema foi perceber que diversas pessoas estavam discutindo sobre aquilo sem perceber isso. Como se percebe que uma notícia é falsa? Antes de qualquer coisa, nós a lemos por inteiro e procuramos as fontes. As fontes são as pessoas ou instituições responsáveis pelo acesso àquelas informações. Normalmente presumimos que jornais sérios fazem esse trabalho de verificação de fontes, afinal, são pagos para isso (ou achamos que são). A verdade é que todo mundo serve a interesses particulares e, portanto, mesmo os maiores grupos de mídia podem lidar com a informação de maneiras não profissionais.
O que nós leitores podemos fazer quanto a isso, então? Antes de mais nada, podemos fazer o nosso trabalho: ler criticamente. Só assim não vamos cair nas falácias que pipocam na internet e no senso comum. Algumas vezes nem assim, pra falar a verdade.
De tudo, pelo menos uma dica: se a "notícia" diz que "fulano falou mal de algo", mas não cita as palavras específicas que foram usadas, é quase certo que há uma distorção em jogo. Isso é básico. Dizer que alguém falou algo é bem diferente do que dizer que Sicrano disse "tal e tal".
Outra coisa bacana, depois de procurar as fontes, é ir nas fontes. Isso dá trabalho, concordo. É cansativo. A maioria de nós prefere a informação já filtrada pelas pessoas de influência que preferimos. É uma escolha como qualquer outra, mas não podemos negar que estaremos entregando nosso entendimento da realidade para outras pessoas. Pessoas de vez em quando interpretam errado (sem querer ou de propósito, não importa, elas erram).
Se tudo o que tu quer é falar por aí descompromissadamente, beleza. Vai lá e chora muito nas redes sociais. Se, por outro lado, teu interesse é manter um debate intelectual, então aí as regras são outras. "Eu li num site" ou "eu li num livro" não é mais argumento para defender opiniões. Onde argumentos são necessários, fontes são essenciais. Desculpa se alguém pensa o contrário, mas está errado.
O que nós leitores podemos fazer quanto a isso, então? Antes de mais nada, podemos fazer o nosso trabalho: ler criticamente. Só assim não vamos cair nas falácias que pipocam na internet e no senso comum. Algumas vezes nem assim, pra falar a verdade.
De tudo, pelo menos uma dica: se a "notícia" diz que "fulano falou mal de algo", mas não cita as palavras específicas que foram usadas, é quase certo que há uma distorção em jogo. Isso é básico. Dizer que alguém falou algo é bem diferente do que dizer que Sicrano disse "tal e tal".
Outra coisa bacana, depois de procurar as fontes, é ir nas fontes. Isso dá trabalho, concordo. É cansativo. A maioria de nós prefere a informação já filtrada pelas pessoas de influência que preferimos. É uma escolha como qualquer outra, mas não podemos negar que estaremos entregando nosso entendimento da realidade para outras pessoas. Pessoas de vez em quando interpretam errado (sem querer ou de propósito, não importa, elas erram).
Se tudo o que tu quer é falar por aí descompromissadamente, beleza. Vai lá e chora muito nas redes sociais. Se, por outro lado, teu interesse é manter um debate intelectual, então aí as regras são outras. "Eu li num site" ou "eu li num livro" não é mais argumento para defender opiniões. Onde argumentos são necessários, fontes são essenciais. Desculpa se alguém pensa o contrário, mas está errado.
domingo, março 10, 2013
A diferença entre uma ideia e um plano de negócios
Eu quero abrir uma editora. Estou com essa ideia na cabeça há alguns dias e até bem empolgado com ela. Só que ela é apenas uma ideia, não uma proposta de negócio. Por quê?
Antes de mais nada, um plano de negócios envolve questões financeiras. Eu vou dizer "ah, eu sei mais ou menos quanto custa para fazer um livro e imprimi-lo. Consigo até estimar os custos de distribuição, mesmo sendo essa a minha área fraca no processo editorial". O problema é que isso não é o suficiente. Eu não preciso saber apenas quanto custa um processo, necessito também estipular de onde tirarei os fundos necessários para cobrir esses gastos e no mínimo calcular quanto tempo precisarei lidar com uma atividade profissional que não me dê lucro. No caso de editoras, a perspectiva não é das mais positivas.
Uma ideia é toda linda e muda o mundo. Um plano de negócios tem um público alvo bem definido. Não é ser medroso, mas consciente. Não é todo mundo que lê e da pequena quantidade de leitores que o mundo anda oferecendo aos editores, querer uma fatia grande demais do bolo pode ser gulodice. Especializar-se, por outro lado, e depois ir expandindo conforme a possibilidade, pode significar não apenas a permanência no mercado: pode significar a sobrevivência. Segundo um estudo do Sebrae em 2003, 31% das empresas fracassam no primeiro ano de operação e 60% não chegam aos cinco anos de vida.
Uma ideia, portanto, não basta. Ela é necessária para fornecer um norte, mas deve vir acompanhada de outras preocupações. Certamente outras questões diferenciam ideias e planos de negócios. Continuo conversando e pensando sobre a minha editora. Será que um empreendimento está nascendo?
Antes de mais nada, um plano de negócios envolve questões financeiras. Eu vou dizer "ah, eu sei mais ou menos quanto custa para fazer um livro e imprimi-lo. Consigo até estimar os custos de distribuição, mesmo sendo essa a minha área fraca no processo editorial". O problema é que isso não é o suficiente. Eu não preciso saber apenas quanto custa um processo, necessito também estipular de onde tirarei os fundos necessários para cobrir esses gastos e no mínimo calcular quanto tempo precisarei lidar com uma atividade profissional que não me dê lucro. No caso de editoras, a perspectiva não é das mais positivas.
Uma ideia é toda linda e muda o mundo. Um plano de negócios tem um público alvo bem definido. Não é ser medroso, mas consciente. Não é todo mundo que lê e da pequena quantidade de leitores que o mundo anda oferecendo aos editores, querer uma fatia grande demais do bolo pode ser gulodice. Especializar-se, por outro lado, e depois ir expandindo conforme a possibilidade, pode significar não apenas a permanência no mercado: pode significar a sobrevivência. Segundo um estudo do Sebrae em 2003, 31% das empresas fracassam no primeiro ano de operação e 60% não chegam aos cinco anos de vida.
Uma ideia, portanto, não basta. Ela é necessária para fornecer um norte, mas deve vir acompanhada de outras preocupações. Certamente outras questões diferenciam ideias e planos de negócios. Continuo conversando e pensando sobre a minha editora. Será que um empreendimento está nascendo?
sexta-feira, março 08, 2013
Raposa brincando de zumbi
Hoje experimentei a deliciosa sensação de quase desmaiar. Quase, porque não caí. Não caí porque percebi a tempo que estava tudo sumindo da vista e voei para a cama. Motivo: provavelmente fome e falta de energia. Estou com uma virose forte que me deixa febril, pintado e com dor de cabeça. Todo mundo acha que é dengue, mas meu sangue diz que não. Estou também com uma afta gigante na língua e ela me impede de comer. Resultado: estou quase desmaiando por aí. Fiquei pálido e com pressão baixa e tudo mais e voei para a cama a fim de evitar que eu voasse de cabeça na parede.
Assim estou hoje, meio zumbi. Não que eu fosse ser um bom zumbi com essa afta me incomodando. O cara aí é tipo meu namorado, me aguentando. Eu morderia ele, se não tivesse uma afta gigante que, além de comer, também me impede de beijar meu namorado.
Assim estou hoje, meio zumbi. Não que eu fosse ser um bom zumbi com essa afta me incomodando. O cara aí é tipo meu namorado, me aguentando. Eu morderia ele, se não tivesse uma afta gigante que, além de comer, também me impede de beijar meu namorado.
quinta-feira, março 07, 2013
Eu não estou sozinho
O médico disse que não era dengue. Levou um litro de soro fisiológico, 50ml de dipirona e três horas de espera no hospital para finalmente me dizer isso e concluir que eu tenho, então, uma virose. Virose, como bem sabemos, é o genérico de "não entendi o que aconteceu contigo". Acabei não indo hoje à faculdade, já que precisava recuperar os neurônios e descansar um pouco.
Achei superfofo perceber, no meio disso, que existem pessoas dispostas a sair de seus caminhos para me dar uma mão. Aquela coisa bonita mesmo de parar, perguntar se estou bem, cuidar de mim, simplesmente por querer bem. Não foi nada inesperado, estou acostumado a saber que tenho bons amigos. Ainda assim, fiquei feliz com as inúmeras demonstrações de afeto.
Em meio a tudo isso, um namorado que me põe deitado na cama e sai pra lavar a louça – que ele nem sujou –, depois de mais de hora parado no hospital esperando o resultado do meu exame. Isso para nem mencionar as reclamações de minuto a minuto sobre o quanto dói ter uma afta na língua. Se já tivessem um novo papa, juro que pedia a canonização do guri!
Achei superfofo perceber, no meio disso, que existem pessoas dispostas a sair de seus caminhos para me dar uma mão. Aquela coisa bonita mesmo de parar, perguntar se estou bem, cuidar de mim, simplesmente por querer bem. Não foi nada inesperado, estou acostumado a saber que tenho bons amigos. Ainda assim, fiquei feliz com as inúmeras demonstrações de afeto.
Em meio a tudo isso, um namorado que me põe deitado na cama e sai pra lavar a louça – que ele nem sujou –, depois de mais de hora parado no hospital esperando o resultado do meu exame. Isso para nem mencionar as reclamações de minuto a minuto sobre o quanto dói ter uma afta na língua. Se já tivessem um novo papa, juro que pedia a canonização do guri!
quarta-feira, março 06, 2013
Notícias de raposa
Duas rápidas informações:
- um conto meu foi selecionado no concurso Loveless, da Editora Escândalo, o que me deixa bastante feliz e um pouco mais confiante em escrever mais e submeter novos trabalhos a concursos.
- estou com suspeita de dengue. Amanhã vou ao hospital verificar.
- um conto meu foi selecionado no concurso Loveless, da Editora Escândalo, o que me deixa bastante feliz e um pouco mais confiante em escrever mais e submeter novos trabalhos a concursos.
- estou com suspeita de dengue. Amanhã vou ao hospital verificar.
segunda-feira, março 04, 2013
Planos futuros
Pensei em abrir uma editora especializada em livros acadêmicos ligados ao feminismo e à teoria queer, buscando títulos que possam ser traduzidos ao português e/ou explicados para um público mais amplo do que o da academia. A editora também teria espaço para textos de literatura, embora essa seja uma parte mais complicada, ao menos para mim, dada minha relação com o ler.
Na prática, eu já sou empreendedor individual e uma das minhas atribuições é "editor de livros". Com os passos e investimentos certos, eu posso já lançar livros. Talvez eu deva experimentar um, estimar custos e averiguar se é possível de fato iniciar um trabalho mais sério. Desde que essa ideia voltou à minha cabeça, tenho andado um bocado empolgado. Ela não é nada para esse ano, mas me programar e pensar a respeito não faz mal, não é mesmo?
Na prática, eu já sou empreendedor individual e uma das minhas atribuições é "editor de livros". Com os passos e investimentos certos, eu posso já lançar livros. Talvez eu deva experimentar um, estimar custos e averiguar se é possível de fato iniciar um trabalho mais sério. Desde que essa ideia voltou à minha cabeça, tenho andado um bocado empolgado. Ela não é nada para esse ano, mas me programar e pensar a respeito não faz mal, não é mesmo?
sábado, março 02, 2013
A verdade é subjetiva
Digo isso sempre para meus alunos: com a cartada certa, é possível provar o que quisermos por meio da ciência. Acho que a imagem abaixo é um bom exemplo.
Hoje comprei livros. Quatro. Por um lado, posso achar que isso é meu lado consumista e tal. Por outro, posso defender que estou estudando e ganhando conhecimento em áreas nas quais pretendo continuar atuando.
Estou realmente empolgado, essa é uma verdade para a qual não vejo lado negativo. Bem, talvez se considerarmos que eu não consigo fazer coisas chatas quando estou empolgado, ou que coisas chatas me desempolgam e tenho algumas chegando. De toda forma, só queria compartilhar isso: meus planos para 2013 subitamente ficaram incrivelmente melhores.
Hoje comprei livros. Quatro. Por um lado, posso achar que isso é meu lado consumista e tal. Por outro, posso defender que estou estudando e ganhando conhecimento em áreas nas quais pretendo continuar atuando.
Estou realmente empolgado, essa é uma verdade para a qual não vejo lado negativo. Bem, talvez se considerarmos que eu não consigo fazer coisas chatas quando estou empolgado, ou que coisas chatas me desempolgam e tenho algumas chegando. De toda forma, só queria compartilhar isso: meus planos para 2013 subitamente ficaram incrivelmente melhores.
sexta-feira, março 01, 2013
Como uma sala de aula deve ser
Durante o mestrado, tive aula com uma professora que contava muitas histórias. Em um desses causos, ela relatou que trabalhara com crianças em situação de risco, ou seja, que moravam na rua. Junto com uma ou outra colega, aos poucos foi cativando os jovens e trazendo-os para um espaço escolar diferenciado, não formal. Sentavam em círculos, conversavam individualmente, caminhavam pelos lugares. Propostas dinâmicas. Um dia, havendo já conquistado uma certa dose de confiança, convidou a meninada a organizar a sala de aula do jeito que eles achassem melhor. Eles toparam o desafio e ajeitaram as mesas e o quadro e tudo mais exatamente igual a uma sala de aula padrão.
Alguns estereótipos se configuram em nós e se reproduzem de tal forma que acreditamos neles e não os questionamos. Acreditamos cegamente que há um jeito correto de aprender, uma forma específica que é melhor que todas as outras. Esse jeito seria a escola, a sala de aula, o mestre em frente aos alunos. O silêncio absoluto, a atenção irrestrita por horas, o corpo silenciado e imóvel.
Estou ao longo desta semana pensando muito nestas questões: como dissipar o tédio que domina as salas de aula? De que maneira colocar o corpo – e não apenas supostamente a cabeça – dos estudantes no espaço de educação? Acho improvável que eu seja capaz de motivá-los, especialmente na faculdade, já que eles estão lá por escolhas razoavelmente próprias. O Ensino Superior não é compulsório (ainda que seja basicamente uma exigência social "para melhorar de vida").
Não tenho respostas. Continuo achando melhor ter perguntas, embora seja difícil não me afogar na inundação de expectativas por respostas.
Alguns estereótipos se configuram em nós e se reproduzem de tal forma que acreditamos neles e não os questionamos. Acreditamos cegamente que há um jeito correto de aprender, uma forma específica que é melhor que todas as outras. Esse jeito seria a escola, a sala de aula, o mestre em frente aos alunos. O silêncio absoluto, a atenção irrestrita por horas, o corpo silenciado e imóvel.
Estou ao longo desta semana pensando muito nestas questões: como dissipar o tédio que domina as salas de aula? De que maneira colocar o corpo – e não apenas supostamente a cabeça – dos estudantes no espaço de educação? Acho improvável que eu seja capaz de motivá-los, especialmente na faculdade, já que eles estão lá por escolhas razoavelmente próprias. O Ensino Superior não é compulsório (ainda que seja basicamente uma exigência social "para melhorar de vida").
Não tenho respostas. Continuo achando melhor ter perguntas, embora seja difícil não me afogar na inundação de expectativas por respostas.
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