domingo, agosto 18, 2013

Falsas promessas

A principal vantagem de se manter um blog por muitos anos (no caso da Raposa, já são sete) é a possibilidade de reler textos do passado e descobrir quem nós éramos a partir do que escrevíamos. Isso facilita muito meu trabalho de saber quem eu sou, ou pelo menos quem eu nunca deixei de ser (não sei se é a mesma coisa). Um trechinho de 2008:
Já não terei mais desculpas para não escrever, e com isso também não terei desculpas para não viver. Com a graduação concluída, talvez eu consiga até mesmo lançar um livro antes do fim de 2009.
Isso em agosto de 2008. Tenho certeza que se eu buscar ainda antes também encontrarei referências sobre minha vontade de continuar escrevendo, de publicar livros. Sonho de infância: ser um escritor famoso. Falei sobre isso em 2012, 2006 e com certeza em todos os anos. Há mais um texto de 2008:
Ao longo do ensino médio e, depois, da faculdade, eu percebi que ser o melhor é difícil; só é fácil se destacar entre pessoas que não se destacam. [...] 
Esse é de fevereiro de 2008, na postagem número 200 da Raposa Antropomórfica. Os próximos trechos são da mesma postagem, estou relendo aqui e vendo muitas coisas que continuam. Alguns discursos simplesmente não mudam, a gente os redescobre de tempos em tempos, mas se não fazemos nada para mudar, eles vão reaparecer vestidos de novidade no futuro.
(uma pausa... sempre que eu escrevo aqui na Raposa Antropomórfica eu tenho vontade de chorar... é estranho, como se eu estivesse abrindo algumas janelas para quartos realmente escuros... que venha o sol)
Eu não sinto mais essa vontade de chorar. Escrever sobre mim já não é mais uma dor constante. Falar e pensar sobre quem eu sou já não me machuca, pois agora tenho uma noção um pouco mais ajeitada sobre quem sou e o que estou fazendo neste mundo. Ainda não sou todo raposa como gostaria, mas estou muito mais próximo disso do que em 2008. Aí vem a bomba:
Outro ponto, last but not least, é o meu retorno às letras. Como é engraçado que no segundo grau meus colegas – os que eu conversava com, pelo menos – sabiam que eu era, ou queria ser, um escritor, e hoje ninguém mais sabe. Alguns sabem, mas que provas eles têm, se eu estou com minha imaginação encerrada apenas à minha cabeça? Devo expandir esses limites, ou do contrário minhas histórias serão nada mais que sonhos particulares. Isso não quero. Anseio pelo retorno à literatura.
Parar de escrever foi muito dolorido para mim, apesar de ter acontecido lentamente. Não sei bem como aconteceu, foi um misto de desilusão e de "meu texto não é bom o bastante". Minha última tentativa de escrita não foi exatamente uma criação literária; está muito mais para uma liberação de idéias sem muito refino.
Eu lembro dessa dor sempre que conto a alguém sobre minha veia de escritor. Com o auxílio da Raposa Antropomórfica, percebo que muitas das minhas promessas ao longo desses anos foram engodos, gritos de guerra que entoei para distrair a mim mesmo. Isso acontece porque não são as promessas que são importantes, mas as ações que tomamos para cumpri-las.

Prometer que seremos melhores não tem valor algum. Pode até convencer a um ou a outro, pode até convencer a nós mesmos. Não convence a realidade. Para alguém acostumado às palavras, eu deveria já estar acostumado também com seus limites.

Quero realmente acreditar que agora será diferente, que agora estou agindo. Dentro de alguns anos, relendo esse texto, saberei se eu estava certo ou se foram novamente apenas palavras.

Um comentário:

vivian disse...

Nossa.
Muitos pensamentos surgem com esse texto. De repente me sinto com uma necessidade de deixar registradas todas as minhas vontades, só para verificar depois se eu ainda quero as mesmas coisas ou se atingi as minhas metas. Muito legal que você tem isso registrado ^^ (por mais que doa, com certeza é a melhor forma de enxergar a si).

Gostei do último parágrafo. As palavras tem limites. Temos que lembrar todos os dias. Vou pôr na parede.

Bora viver.

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