Eu sou uma raposa.
Uma vez me disseram que eu tinha um ego gigantesco. Lembrando que ego, de ego, superego e id, é nada mais que uma tradução errada de *eu*. Ego = Eu. Portanto, me disseram que o *eu* em mim é muito grande. Portanto, não é errado falar em *eucentrismo*, ao invés de egocentrismo.
eu sou eucêntrico algumas vezes. Não interpretem mal, não sou egoísta, excetuando momentos raros de fúria espiritual. Preocupo-me com os outros, sinto o que os demais sentem. Fazer algo a respeito, contudo, já não está mais no campo do egoísmo, mas sim do altruísmo. E nunca falei nada sobre ser altruísta.
Como uma raposa, eu sou esperto. Não apenas inteligente, capaz de fazer relações entre aspectos distintos e tirar, daí, idéias novas. Não apenas perspicaz, habilitado a ver manifestações escondidas e compreendê-las. Sou esperto, perito na utilização das minhas capacidades, seja para o bem, seja para o mal.
como uma raposa, sei enganar. Ilusões são facilmente criadas e desmanchadas conforme jogo com os fios que compõe o mundo. Não é necessário mudar a realidade em si: basta alterar o mundo particular de cada um. Infelizmente, algumas vezes minha ilusão me engana. Nada é de graça.
sou uma raposa, sou diferente. Sou bom, mas não estou aqui para salvar o mundo. É fácil ser mau, porém não tenho nenhum interesse em sê-lo. Eu vivo pela arte, e posso dizer que a arte vive para mim.
Assim funciona o meu mundo. Ontem um menino, hoje uma raposa.
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E assim segue minha história.
sem rupturas, sem partidas. Uma nova folha foi acrescentada, uma nova lenha na fogueira. Estou pronto novamente para levantar o olhar e seguir caminhando. Toda a dor ficou para trás, meu corpo agora se recupera enquanto espera o novo confronto.
este ano não me deixará partir sem cobrar seu preço. É a regra, eu jamais poderia me tornar uma raposa sem deixar para trás meu fardo humano. Nem também poderia ser feliz sem ter experimentado a tristeza. Não posso, então, carregar o segredo sem contar a verdade.
Começa hoje minha despedida desse ano nessa cidade. Bons amigos que deixarei aqui, cuidando da cidade enquanto eu estiver fora. A ervilha tornar-se-á pouco maior enquanto não estiver eu aqui para compartilhar de seus encontros inusitados.
mais uma vez estou feliz. Tenho amigos, e já não são poucos. Tenho minha caixa no peito batendo, e brilhando por alguém.
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Outra vez escrevo apenas pelo prazer de colocar minhas palavras em algum lugar. Não tenho muito o que dizer. Posso contar que quase fui assaltado ontem, ou que carreguei relíquias baratíssimas e preciosíssimas pelo centro ontem. Posso dizer que pensei muito, esperei bastante, sorri.
eu recuperei minhas energias. Estou pronto para enfrentar o mundo dos outros. Que seus tentáculos retrocedam, pois jamais contaminarão o meu abrigo.
Eu sou uma raposa.
eles não podem me tocar.
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