terça-feira, fevereiro 28, 2012

Caminhos e paragens

A gente nunca sabe o que vai acontecer se decidirmos parar, se resistirmos a mudanças ou se as abraçarmos. É bem verdade que podemos arriscar algumas previsões e também que em vários casos estaremos corretos em relação a elas. À medida em que a gente vai vivendo no mundo, em teoria também vamos aprendendo a lidar com ele e sua complexidade, levando cada vez mais elementos em consideração na busca pelos nossos objetivos de vida.

Eu fiz essa escolha quando saí de Porto Alegre. Algumas pessoas podem pensar que desisti da minha vida anterior, que abandonei pessoas queridas em busca de algum senso de egoísmo. Talvez a parte do egoísmo seja bem verdade, já que partir significa, antes de qualquer outra coisa, privar a si mesmo e aos outros de um tipo de experiência que até então era cotidiana. Meus amigos perderam a oportunidade de cruzar comigo no ônibus, de dançar em festas ao meu lado, de avançar a madrugada conversando sobre um filme ruim na televisão.

Agora, depois de dois anos, a pergunta que invariavelmente me acompanha é: valeu a pena? Foi uma boa troca? Essas questões devem nos seguir em todos os momentos, já que são elas que reverberarão em nossas escolhas futuras. Eu acho, sim, que valeu a pena sair de Porto Alegre e mudar para Goiânia. Vivi experiências incríveis e conheci pessoas maravilhosas, as quais eu jamais teria conhecido se não fosse por essa viagem. O tempo que pude dedicar a cada uma também foi muito importante, embora tenha significado uma direta redução do tempo que passei a dedicar a Porto Alegre.

O que está em jogo é sempre o que fazer com o nosso tempo, dentro das condições que temos ou não para escolher. Eu não tenho condições, ainda, para viver em duas cidades, mas já sei que uma só não é o bastante para me satisfazer. Ainda mais agora, vivendo há dois meses em Columbus, penso que nem duas serão suficientes para conter minha fome de mundo.

O que isso diz de mim e das pessoas que me circulam? Que eu não as considero importantes? É, é uma leitura mais que possível. Entretanto, o que a vida tem me mostrado é que as pessoas que realmente são valiosas para mim seguem comigo, mesmo distantes. Existem reencontros, existem momentos em que nos dedicamos uns aos outros novamente e celebramos o fato de compartilharmos o tempo que temos. Essa não é uma possibilidade aberta com a internet, amigos trocam cartas há séculos. O que a internet faz é facilitar e ampliar esse convívio.

Atualmente estou deparado com uma questão bem grande: continuar morando em Goiânia ou não? Sei que ainda tenho o que tirar da cidade, o que aprender com ela e também o que ensinar. Contudo, esses meses fora do Brasil estão me dizendo que também há muito para viver que eu nem imagino. Isso me excita profundamente. E entristece, pois esse jeito nômade de viver me segura de plantar raízes mais fundas. Ainda não sei se profundidade é necessariamente mais força, ou se é uma questão de aprender a criar raízes resistentes, embora não muito enterradas. Sei de amores incrivelmente intensos que aconteceram em poucos dias antes de se separarem. Sei de dores que persistiram por anos. Que persistem.

A única coisa que eu posso dizer é que estou aprendendo a viver no mundo, nesse jogo sem regras claras. Há algo de esperança nisso =)

3 comentários:

maria lucia disse...

Ai, q me dera não estar enraizada até o pescoço!!! tipo assim, seringueira, sabe? heheh. Não te preocupa com isso agora! E um segredo: quanto mais tu vive, menos claras ficam as regras!!!

Léo Tavares disse...

É, as mudanças (e as distâncias) nem sempre são puramente geográficas. A gente às vezes precisa sair de um lugar pra se deslocar de dentro da gente, por exemplo. Eu sou do partido das transformações, apesar de ter um pavor inicial delas. Queria ter mais coragem para esses deslocamentos físicos, geográficos; quem sabe se o meu eu de dentro achasse um lar em mim mesmo se o meu eu de fora fosse mais viajante?

Tales disse...

Mudar é sofrido, disso eu tenho certeza. Eu gostaria que fosse mais fácil, mais rápido, mais amável, mas quando a gente muda, todo o resto se transforma junto.

Meu medo sempre é o de perder mais do que eu ganho. Só que, mesmo que eu ganhe mais do que eu venha a perder, eu ainda estou perdendo alguma coisa que não será substituída. Algo tomará o lugar, mas não vai substituir, pois nunca é a mesma coisa.

Mas de novo, mudar não é justamente fugir de ser sempre a mesma coisa?

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