Quem me acompanha na Raposa Antropomórfica pode pensar que minha vida escolar foi apenas lágrimas, mas isso não é verdade! Hoje na faculdade nos reunimos em duplas e trios (na realidade, eu estava sobrando, como estudante que não faz parte oficial do curso e, portanto, simplesmente me acoplei a uma dupla já formada) para discutir os projetos que cada estudante construiu. O propósito da disciplina é que cada pessoa a termine com uma proposta pronta direcionada a algum órgão real, requisitando financiamento para uma performance artística, uma apresentação, um evento etc. Eu, como visitante cujos interesses estão em língua portuguesa, me abstive de participar ativamente do processo e, portanto, estou apenas comentando.
Minhas duas colegas tinham projetos legais: uma delas intentava a realização de um curso de verão para crianças carentes, buscando oferecer treinamento em música (canto) e dança como forma de superar as condições sociais precárias em que vivem; a outra planejava uma exposição fotográfica orientada pelo tema do abuso sexual e a forma como as pessoas que o sofreram são frequentemente taxadas de culpadas pelo mal que lhes foi feito. Ambas estão requisitando dinheiro para pagar pessoas, locais e equipamentos em projetos que oferecem uma determinada quantia periodicamente para estimular e auxiliar esse tipo de iniciativa.
Fiquei feliz de perceber que as duas estão interessadas em fazer algo que acrescente não apenas às suas bagagens artísticas/profissionais, mas também influencie positivamente na vida de outras pessoas que, pelos seus relatos, vivenciam situações de exclusão, invisibilidade ou marginalidade. São duas estudantes interessadas em fazer algo por alguém.
Em outra disciplina, ainda nesta semana, discutimos a respeito de "qual foi a coisa mais significativa que um professor já fez para você?". Um dos comentários foi sobre um professor de matemática que, ao longo de um ou dois meses, acompanhou uma aluna em seu escritório por cerca de duas horas todos os dias após as aulas, a fim de que ela compreendesse uma matéria à qual teve um acesso deficiente nos anos anteriores. Um professor disposto a fazer algo por alguém.
Seguindo essa linha de raciocínio, que a esta altura já deve estar claro que admiro, lembrei-me de uma professora no colégio. Em meio ao Ensino Médio e a dificuldade que ele significava na minha vida, lá estava uma professora que não apenas de interessou e dispôs a ler uma história que eu havia escrito, como me deu retorno. Ela revisou o texto todo, fez comentários e me incentivou a continuar escrevendo. Na época, pensei que ela demorou muito para me devolver o "meu livro", mas hoje compreendo que o tipo de serviço que ela estava fazendo não é fácil, tampouco barato, e ainda assim ele me fez de graça. Como professora, ela enxergou talvez não um potencial para um grande escritor, mas para letras que poderiam construir caminho para uma vida mais feliz.
Ando relapso com a literatura e a missão de escrever diariamente para o blog é uma tentativa de reverter esse quadro. Até o fim do ano, planejo escrever ficções novamente. No meio de tudo isso, não consigo nem quero esquecer essa pessoa que, em uma ação significativa, se marcou tão forte na minha vida que até hoje, exista destino ou apenas uma coincidência risonha, tornei-me amigo de sua amiga e também de seu filho.
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