sexta-feira, fevereiro 17, 2012

A dificuldade de ser ético

Eu e minha amiga conversávamos hoje sobre relacionamentos - nosso assunto favorito - e ela mencionou um livro de algum psicólogo por aí que, como sempre, falava de estratégias e mentalidades que casais encontram, passam, sofrem e vivem para se casar, namorar, transar e atrair. Casais heterossexuais. Daí pra frente começamos a discutir sobre as implicações do livro e da insistência em fingir que outros tipos de relacionamento não existem. Falei que não compraria o livro. Ela disse que o livro falava dos interesses dela e não dos meus, o que explicaria eu não quisesse comprar. Eu disse que, na verdade, eu não entendia sequer como ela poderia comprar o livro, uma vez que ele apoiava (silenciosamente, como acontece com a heterossexualidade compulsória, podemos ver um ótimo exemplo aqui) uma ideologia com a qual eu não consigo concordar. Ao fim da conversa, minha amiga estava já concordando comigo, havendo compreendido que eu não estava irritado com o livro não ser direcionado para mim, mas sim com o fato de um pretenso manual genérico sobre sexualidade fingir que minhas experiências não são válidas o suficientes para serem levadas em consideração.

Aí eu, é claro, fiquei pensando nisso durante o resto do dia.


Eu acredito que as pessoas devem ser abertas e reconhecerem a existência das outras, mas na primeira oportunidade estou aqui esbravejando contra a possibilidade da minha amiga sustentar as ideias (limitadas) de uma psicóloga heterossexista. Ou melhor, que eu estou presumindo que seja heterossexista, nem li o livro, apenas uma resenha. Claro, é uma batalha interminável: nosso tempo é limitado e temos que gerenciá-lo de forma a dar privilégio para as coisas que nos interessam, então esse é um motivo suficiente para que eu não leia o tal do livro. Daí a espernear contra ele e querer que ele nunca seja lido, queimá-lo se eu tivesse o poder? Onde fica meu discurso de pluralidade?

Essa é a volta do parafuso de qualquer pessoa que defenda liberdades. A defesa deve parar quando chega ao ponto de pessoas que são contrárias às suas ideias? Nesse caso, não seriam essas liberdades bem pouco... livres? Somente algumas permitidas? Se for, qual a diferença entre mim, que digo defender as liberdades que lutem contra opressão, e algum fascistinha que resolva me matar por eu preferir meninos a meninas? É o fato de que eu não o mataria? Ei, não vá fazendo suposições sobre mim.

Eu realmente não sei qual é a diferença, nem sequer se existe uma. Como provavelmente todo mundo, eu acredito que minha posição no mundo é mais acertada que a das pessoas que me contrariam. Talvez uma distinção seja o fato de eu não considerar esses sujeitos como menos que humanos, como criaturas desprezíveis... embora nem sempre eu consiga.

Eu não acredito em violência, mas ela não precisa da minha fé para existir. Eu sei que não é um caminho que eu utilizaria para construir o mundo que quero viver (e que meus amados vivam). Da mesma forma, não acho que uma educação libertária é suficiente para proteger a humanidade de sujeitos com intenções malignas. Tem gente ruim por aí. Tem gente que pode querer invadir o meu espaço (físico e moral) para me ferir. O que acontece se for impossível conviver?

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