Recentemente escrevi sobre quem pode ser professor. Como sempre, eu estava tentando pensar a respeito das limitações que frequentemente a sociedade nos impõe, qualificando e ordenando quem pode fazer o que. Acho importante deixar claro: essas separações têm um sentido e são muitas vezes úteis. Meu problema com elas começa quando as limitações são restritivas demais e ignoram a amplitude e complexidade dos aprendizados humanos.
Penso na dificuldade que terei para me tornar um professor de universidade federal. Minha graduação é em jornalismo, minha especialização em expressão gráfica, minha experiência profissional em processos editoriais (revisão e editoração) e meu mestrado em cultura visual, atravessando questões de sexualidade e educação em artes visuais. A maioria dos concursos para professor em universidades federais requisita que a titulação mais alta e a graduação sejam nas mesmas áreas ou, no máximo, em áreas afins. Por essa lógica, eu estou excluído de concursos na área da Educação e das Artes, dois campos nos quais tenho investido tempo e raciocínio para pensar e trabalhar. Eu pergunto: uma graduação em Educação garante que um sujeito será um "melhor professor" do que eu poderia ser? Ou, colocado de outra forma, eu sou um professor menos capacitado, ou menos competente, por haver trilhado um caminho diferente?
Em julho viajei para fazer um concurso. Eu estava em dúvida se deveria ou não, mas uma professora me fez uma pergunta que até hoje me acompanha: "tu tem algo que tu poderia compartilhar com graduandos?". A minha resposta foi hesitante, "acho que sim", então ela disse que isso era suficiente para eu ir e fazer a prova. A questão aqui não é a respeito de ser o melhor candidato possível, mas sim de dar o melhor de si para preencher as expectativas e, se possível, superá-las através de um trabalho no qual se acredite estar operando algum tipo de mudança na existência (sua e dos outros).
Digo isso com alguma frequência, mais para lembrar a mim mesmo do que para reforçar um ponto de vista, mas eu entrei no mestrado com um objetivo: aprender e me tornar um professor. Dois anos atrás, quando fiz a prova de seleção, eu acreditava que sendo professor eu teria condições de interferir na vida dos sujeitos e abrir portas para indivíduos que, como eu um dia, talvez não saibam que podem ou ainda não consigam abri-las.
É isso que acredito e defendo: ensinar deve ser sobre abrir portas, não sobre abrir apenas algumas portas se você tiver apenas determinadas chaves.
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