segunda-feira, novembro 07, 2011

As vidas de uma história

Eu costumo pensar na minha vida como um seriado. Não é a primeira vez que eu escrevo a respeito, dificilmente será a última. É um pensamento recorrente. Tendo a imaginar cada semestre, e também cada período de férias, como uma temporada. Uns personagens entram, outros saem. Alguns vão ganhando importância e outros vão se afastando. São histórias que continuam, se amarram, se envolvem. Uma grande narrativa permeada de narrativas internas.

Penso em 2006 como o ano que inicia essa história, mas na verdade ela vem desde vinte anos antes. Muito desses vinte anos nunca foram anotados aqui na raposa antropomórfica. São períodos dos quais eu me arrependo, os quais eu renego, esqueço, finjo que nunca tiveram importância. Não é triste, isso, deixar dezenove anos de uma vida guardados em uma caixa? Àquela clássica pergunta "o que tu mudarias se pudesse voltar no tempo?", eu tenho inúmeras respostas preparadas. Arrependimentos e tal. De uns tempos pra cá, fui aprendendo a viver com eles e a cada vez mais alcançar a vida que eu sonho pra mim. Essa vida está muito perto, depois de tantas transformações. Eu não precisei voltar no tempo para que as coisas chegassem ao ponto em que chegaram: tudo o que foi necessário, e não digo que é fácil, foi aprender. O caminho que funcionou (até agora) para mim não é uma fórmula aplicável à espécie humana. Nada garante que os mesmos passos resultariam em êxito para outras pessoas.

Comecei parando de dizer não a tudo que me cruzava a vida. Um sim aqui, outro ali. Um momento significativo com alguém tornado numa relação importante que se virou em amizade. Mais de uma, na mesma época. Meus melhores amigos que me acompanham até hoje são de 2006. De uma vida completamente assexual, passei a namorar, a buscar caminhos para viver um relacionamento afetivo. Foi difícil, irritante, doloroso, envolvente. O fim de 2008 trouxe o término de tantas coisas, que me senti como Erica, de Being Erica, no fim da segunda temporada da série: sem nada. Sem namorado, sem emprego, sem aulas. Completamente perdido.

Passei a dizer sim para tudo, já que não tinha mais nada. Ou pensava que não tinha mais nada. Com vinte e dois anos, queria aprender aquilo que algumas pessoas de quinze já vivenciavam há pelo menos cinco. Estava cansado de ser aquela pessoa à qual quem tinha problemas recorria, mas que nunca tinha os próprios problemas para resolver. Arranjei problemas. Planejei encerrar minha vida de Porto Alegre e iniciar uma nova em Goiânia, a fim de acelerar o processo. Funcionou, prestei prova para o mestrado e passei, e em 2010 iniciaria uma nova vida. O que eu não esperava eram os dois primeiros meses do ano, os months of valediction. Munido de um desejo louco, me aproximei ao máximo dos meus melhores amigos e tive, com eles, os melhores momentos que poderia ter vivido em anos. Talvez ainda hoje muitos desses dias ainda figurem entre os meus favoritos.

Em Goiânia, onde já vivo há quase dois anos, passei boa parte do primeiro acreditando que estava imune aos artíficios do coração. A gente sempre acha, não é? Meio Jorge Drexler, tu corazón va a sanar y va volver a quebrarse. Hoje já não duvido mais dos poderes desse estranho arqueiro do amor, mas também aprendi que ele não funciona simplesmente pela vontade. Ele exige de nós mais do que geralmente sabemos como fazer. É, aliás, uma das maldades da vida: temos uma só e exige-se de nós que joguemos pelas regras, porém só vamos aprendendo-as conforme a vida vai fluindo. De novo Drexler: Nadie sabiendo que morir también es ley de vida.


Em um mês e meio, mais uma temporada vai se encerrar. A previsão é que a nova dure apenas dois meses e meio, envolvida em uma cenário diferente e com personagens novos, que podem ou não começar a fazer parte da minha história. Mais uma vez, um momento de encerramentos, que talvez afaste personagens de mim. Acho que é a pior parte, a dor de saber que nem tudo pode caminhar conosco. Os caminhos não são sempre paralelos. Isso é verdade para pais e filhos, para irmãos, para amigos. If nothing lasts forever, than what makes love an exception?


Então amanhã levantarei para mais uma segunda-feira, irei ao trabalho, cumprirei minhas obrigações. Passarei no mercado, farei compras para a casa, talvez a limparei, quando chegar. Continuarei escrevendo um artigo, lendo textos para minha dissertação, planejando um curso para fevereiro. De noite entrarei na internet, conversarei, contarei sobre meu dia. Essa é a vida que eu tenho agora e que me faz feliz. É a mesma vida que, por eu estar mudando, não me faria feliz para sempre. Há uma mudança chegando.

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