domingo, novembro 13, 2011

Trabalhar

Mencionei recentemente que vou parar de trabalhar no fim de novembro. Minha chefe imediata me pediu que eu considerasse a possibilidade de ficar ao longo de dezembro, pois só viajarei em janeiro. Estou cogitando algumas possibilidades de horários diferenciados, quem sabe até mesmo não trabalhar o tempo inteiro na sede da empresa, aproveitando um pouco para ficar em casa e organizar melhor o meu ir e vir. Eu quero que dezembro seja meu mês de arrumação final da dissertação (ao menos, uma organização de forma que ela fique "terminada") e de preparação para a viagem.

Aí acordo hoje e vejo trabalhadores na rua, asfaltando um trecho que, na última semana, estiveram esburacando e colocando canos gigantes. Coisa que evidentemente exige técnica, mas também exige força. O que eu faço não pede força. Pede concentração, atenção, foco, mas não força. O que eles fazem também pode ser melhor feito com concentração, atenção e foco. Quando comecei a escrever o post, eu pretendia escrever sobre como as pessoas nascem com algumas qualidades aqui e outras ali e que talvez fosse de alguma forma genético que potenciais elas têm para desenvolver ao longo da vida. Contudo, eu não sei se acredito nisso. Não sei se eu algum dia teria a destreza para ser um jogador de futebol, coisa que meu pai se esforçou para me ajudar, antes de desistir e determinar que o meu caso era de "tempo e estudo". Não sei se eu daria conta de aprender e lidar com o número infinito de informações e dados que se esperam memorizados de médicos. Não sei se eu poderia ser um cozinheiro profissional. Um ator. Um ator pornô. Um dançarino. Um engenheiro. Assim como eu não acredito que a maior parte das pessoas pudesse fazer o que eu faço.

Esse é o momento em que eu preciso voltar à discussão sobre etnocentrismo. Não acho que o que eu faço é, de alguma forma, superior ao que os trabalhadores estão fazendo na rua. Também não acredito que um médico, por envolver vidas diretamente, realiza uma tarefa que mereça estar em uma posição social superior a, digamos, um pescador. "Ah, mas pescar envolve menos conhecimentos do que a medicina". Talvez. Posso até concordar, para fins de argumentação. A pergunta que nasce é: e daí? E o queco? Por que nós precisamos valorizar como superior, independentemente de exigir mais ou menos conhecimentos? Está aí algo que me incomoda...

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