quarta-feira, janeiro 18, 2012

Coisas que a gente toma por certas

Eu trabalhava em uma editora cujo horário de abertura era 9h. A questão das horas não era muito importante, já que eu trabalhava apenas 20h por semana e poderia compensar atrasos com horários alternativos. Algo muito importante que meu chefe sempre dizia: "a prioridade são os estudos". Isso significava que eu tinha carta branca para me ausentar em qualquer momento que meus estudos assim requisitassem.

Naquele dia eu cheguei 9h20 e editora ainda estava fechada. Quando deu 9h45, eu estava já possuído pelo demônio da raiva quando finalmente a secretária - responsável por destrancar as portas - chegou. Ela sorriu, me cumprimentou como se nada tivesse acontecido e abriu a porta. Olhei o relógio do meu celular de novo, incrédulo, e a segui. Eu poderia ter brigado com ela naquele exato momento, mas eu tendo a preferir ser o cara que se controla e que respeita os outros. Ela deveria ter um bom motivo para aquele atraso, então por que eu pularia no pescoço dela antes de saber?

Quando ela me disse que eram 8h45, eu corri para o telefone e liguei para uma amiga apenas para perguntar as horas. O horário de verão havia começado e meu celular não ajustou automaticamente, como presumi que ele faria. Esse pequeno fato me tornou a piada do dia. Mais do que isso, esse pequeno fato poderia ter causado a erupção de uma briga desnecessária na qual eu estaria acusando alguém baseado no que o que eu acreditava que era verdade. Eu não saberia que estava errado. Nesse caso específico, seria relativamente fácil me provar o erro e me fazer pedir desculpas. Em tantos outros, porém, nem tanto.

Ontem conversei com um professor e lhe disse que estava interessado em trabalhar academicamente com ele de todas as formas possíveis durante o tempo em que estiver aqui nos Estados Unidos e, dependendo da natureza do trabalho, poderíamos continuar futuramente. Aliás, essa parte do continuar não foi explicitada, algo que devo corrigir. Ele não sabia e, pela minha falta de menção a isso, achava que eu não estava particularmente inclinado a essa parceria. Nas minhas primeiras semanas aqui, eu simplesmente assumi que ele estava ciente de quais eram as minhas intenções. Elas eram bem claras para mim, por que não seriam para ele? Porque ele é outra pessoa e tem outras coisas na cabeça.

Parece simples, mas quando esquecemos disso, verdadeiras bolas de neve podem se formar e sem demora se tornarem maiores do que conseguimos lidar.

Um comentário:

Cristiano disse...

Vejo esse efeito bola de neve em pequenas mentiras que vivo falando...

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