sábado, janeiro 14, 2012

It gets better, parte 2

Esta postagem é uma continuação do que eu comecei outro dia. Basicamente, a forma como nos comportamos socialmente é uma declaração política. Pode ser silenciosa, na medida em que você está colaborando, compartilhando ou corroborando algo que já exista, já seja a norma, já seja normal. Ninguém precisa falar nada para declarar que é heterossexual, branco, classe média, tem uma esposa, dois filhos e um cachorro. Ao não dizer essas coisas, você está remarcando seu território. Ele já é seu, mesmo, tanto seu que nem precisa ser defendido.

Um homem afetado também está fazendo um ato político. Ele está errado. Não pelo jeito que ele é ou age, mas pelo contexto no qual está inserido. Na sociedade em que fomos criados, homens são poderosos, fortes, mal cheirosos e donos das mulheres. Coçam o saco em público e fazem isso porque podem, porque querem e porque é assim que sempre fizeram.

Quando meus colegas me respeitam por ser queer e ainda assim um cara de caráter, tem algo muito perverso em andamento, mas também algo positivo. Isso só é digno de nota porque eles não esperavam que um sujeito transviado pudesse ser competente ou estar numa posição de poder. É positivo por eles estarem vivenciando um exemplo de algo que não é comum para eles e que, tomara, faça alguma diferença. Não que eu ache que vá fazer. Esse é o problema do estereótipo: quando conhecemos alguém que escapa dele, esse sujeito se torna um indivíduo, mas o estereótipo permanece intacto para todos os outros que não conquistaram o mesmo privilégio. Basicamente, eu fui um viadinho que ganhou o direito de ser chamado pelo nome. Contudo, o ser viadinho não deixou de ser importante. Aí entra a questão de quem pode falar, quem tem o alegado direito de nomear. Eu só ganhei direito de voz - se é que ganhei - depois que o apesar de ser queer foi deslocado do primeiro plano.

Essa é a grande questão por trás desses projetos do It gets better. Algo acontece conforme a gente vai se afastando da escola: aos poucos, começamos a aprender que identidades são fluidas e que orientação sexual é apenas um pedacinho do que a gente faz. Embora sexo seja uma grande coisa na escola, o que faz sentido pela falta de experiência e excitação hormonal envolvida, aos poucos outras preocupações e ansiedades vão ganhando importância. As pessoas se tornam mais do que quantas tu pegou ontem?, ainda bem! Isso é particularmente positivo quando a tua resposta é sempre zero, já que tu estava muito mais interessado em outros corpos do que os que tu poderia falar pros amiguinhos. Ou, em casos como o meu, quando a pessoa era basicamente assexual.


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