sexta-feira, dezembro 31, 2010

Trilha sonora da segunda temporada goiana

None of dem – Robyn
Jeu du foulard – Coralie Clement
The state I am in – Belle & Sebastian
For today I’m a boy – Antony and the Johnsons
First day of my life – Bright Eyes
I miss you love – Damien Rice
Palavras – Cássia Eller
Telegrama – Nando Reis
Hermanda Duda – Jorge Drexler
Sanar – Jorge Drexler
Fools by your side – Hal
Personal – Stars
Refugee – Oivavoi
Yesterday’s mistakes – Oivavoi
Roads – Portishead
On the radio – Regina Spektor
Sleepy Tigers – Her Space Holiday
The world will deem us dangerous – Her Space Holiday
Take me to the riot – Stars
On my own again – Kleerup (Feat.Lykke Li)
All is love – Karen O the kids
Objects of my affection – Peter Bjorn and John
Nessa temporada mudei o jogo novamente. Voltei de Porto Alegre acreditando não precisar de ninguém, que poderia viver sozinho e me virar sem amigos. Em pouco tempo descobri que estava enganado e que queria mais do que isso, mas sem saber como. Errei, acertei, apaixonei (e quem dirá se a paixão é um erro ou um acerto?). Foi tudo muito rápido, muito intenso. Conheci, beijei, gostei e então senti a ausência. Acreditei que um mês pudesse ser para sempre e aprendi algo com a dor de notar que não. Alegro-me de que meus erros não sejam os mesmos de outrora.
No ponto mais baixo da tristeza, vi-me tentando inclusive o que contrariava minhas crenças mais profundas. Desatei os nós dessa profundidade e, no processo, reencontrei uma felicidade que estava desacostumado a vestir. E agora preparo-me para virar o ano com tudo no lugar, coração feliz e alma entristecida, ambos reconciliados nessa ilusão que chamo de eu. Imagino que canções embalarão minhas aventuras nos anos vindouros...

Pensando 2010

Eu comecei a existir em 2006, saindo do meu estado de autismo. Bem, Ao fim desse ano completo cinco anos de existência, de experiências e experimentos. Minha vida ganhou não apenas um sentido, mas vários, e eles se sobrepuseram, contrariaram, distanciaram, aproximaram e mudaram. Alguns, inclusive, continuaram os mesmos.

Em 2006 a luta era por uma possibilidade de existência; quando 2007 chegou, minha preocupação era manter a realidade feliz que havia alcançado e transformar os elementos que não condiziam com a vida que sonhava pra mim; 2008 significou uma crise nesse mundo perfeito, na medida em que percebi que ele não me realizava plenamente, eu não tinha precisamente o que estava acreditando não precisar; em 2009 joguei-me à busca pelo novo, na tentativa de localizar, num turbilhão conceitual, quais caminhos poderiam ser trilhados e que destinos me importavam o bastante para serem buscados. A crise passou em 2010, quando tudo que havia sido fragmentado foi remodelado, ampliado, alterado.

Se esse foi um bom ano? Não posso dizer de todo, mas acredito que sim. Minhas amizades foram aprofundadas, minhas relações com outras pessoas, aumentadas, meus estudos estão cada vez mais animados. Estive feliz, chorei como há anos não fazia, dancei inúmeras últimas noites. Despedi-me de pessoas amadas, reencontrei e disse tchau novamente. Mudei de habitação quatro vezes. Deixei pessoas pra trás, fui deixado de lado, odiei, amei, briguei, vivi. Muito, muito mesmo.

Eu não sei, ainda, o que eu quero. Sei que quero algumas coisas, e vou atrás delas enquanto outros interesses não aparecem pra me guiar. O que me espera em 2011? Que promessas faço, o que tentarei arrumar, mudar, viver? Vou continuar o que 2010 significou: construir e reconstruir, destruir, repensar, remodelar. De novo e de novo. Viver.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Fim de temporada

Assim, com um sorriso, encerro mais uma temporada. Amanhã embarco para Brasília e de lá para Porto Alegre. Uma semana, tempo pequeno, momento rápido. A saudade não será matada, mas certamente aplacada até minha próxima visita. Entre 2010 e 2011 a temporada de férias se dará em dois cenários, com dois grupos de personagens distintos. Não sou mais protagonista de um cenário apenas, agora de dois, quiçá mais. Campinas também luta para entrar na história. Recife? Santa Catarina? Quantos lares abrigarão minha vida?

Meu medo da primeira temporada goiana não se repete: os personagens deve vez se manterão no elenco. Vários foram testados e falharam no gosto do público. Contudo, os que estavam lá desde o início continuam, e deles alguns vão seguindo.


Eu estou feliz, e certamente mais vivo do que nunca. Não tenho muito tempo ultimamente pra ficar triste, pra baixar a cabeça e os ombros. Melhor assim. Essa próxima não será uma temporada de sofrimentos.

segunda-feira, novembro 29, 2010

Motivações

Ainda não estou a fim de discorrer muito sobre isso, mas aqui vai a pergunta: o que motiva as pessoas? Sei que é diferente pra cada um, mas o que? Como damos valor às coisas? O que pesa nas nossas escolhas pessoais?

Curioso, curioso.

domingo, novembro 28, 2010

Zen

Vontade louca de estudar, aprender, saber mais. Pensar diferente, construir melhor (ou algumas vezes pior). Esse desejo louco que me toma de entender.

Feliz

Estou sorrindo, satisfeito com os amigos que vêm me visitar. Limpei a casa, estou de alma ajeitada. Entendo que o que sempre me perturbou na tristeza foi sua mania de me acompanhar, e sei que se no momento ela está viajando, ela voltará. Eu a receberei, oferecerei meu corpo e minha vida para que se manifeste, mas que ela saiba que sua irmã também voltará, e sorrirei novamente por estar feliz.

=)

sábado, novembro 06, 2010

Sonho estranho

Pensando agora, sonhei algo esquisito hoje de tarde. Foi um sonho erótico, sem dúvida, envolvia apetrechos eletrônicos e uma pessoa com a qual eu nunca havia fantasiado antes. Não que fosse alguém que nunca tivesse me interessado, eu apenas sempre considerei fora do meu alcance. Ainda acredito que esteja, diga-se de passagem.

Seria divertido se sonhos fossem previsões de futuros possíveis hahaa.
Mas, creio, são mais é configurações intelectuais que fogem a algumas barreiras construídas no nosso inconsciente. Aliás, fica sendo engraçado isso, não? Quero dizer... nosso inconsciente sabotando nosso próprio inconsciente.

terça-feira, outubro 19, 2010

Pensando na minha casa

Estava agorinha arrumando a casa. Bateu uma sensação de algo estar errado, de alguma coisa necessitar conserto. Acho que era eu. Explico. Algum tempo atrás li, em algum lugar, que havia pessoas que poderiam descrever nossa personalidade a partir da forma como nosso quarto era organizado. Nunca achei que isso fizesse muito sentido na minha realidade portoalegrense, já que meu quarto não era arrumado por mim, portanto não refletiria minha personalidade plenamente.
[Engraçado, eu não havia me dado conta que ter interferência poderia, talvez, refletir uma certa dependência minha de um contato exterior. Alguém ali para me dar a mão, comprar minhas panelas, fazer a comida. Não seria justamente essa interferência que diria mais sobre mim?]

Hoje, olhando para minha casa desarrumada, com os móveis que eu escolhi (mesmo que não 100%) e arranjei e coloquei e pensei, senti dó de mim. Se minha casa reflete minha personalidade, então estou realmente revirado. Que pessoa que não tem disposição para arrumar a própria moradia terá energias para consertar alguma coisa na própria vida?

Por isso, arrumei.
Ou comecei, ao menos. Não é algo que se faça uma vez e pronto. É daquelas tarefas que a gente leva pra vida. Porque vida é isso, não é estável, é fluxo.

The heretic

Uma pequena homenagem ao passado, que retorna com tudo =)

terça-feira, outubro 12, 2010

Relacionamentos

Hoje foi ao bosque dos buritis pensar sobre a vida, depois de ter dormido das 9h às 17h. Estava meio descornado, meio solitário, essa sensação constante em uma pessoa que abandonou sua cidade natal para desbravar um lugar desconhecido. Certo, o discurso de "coitado, ele está sozinho" já está caducando, pois já são sete meses aqui. Azar, sou meio tartaruga pra construir relações.

Então estava lá eu observando o dia virar noite, o jato d'água cruzar o céu e as pessoas caminhando com seus cachorros, quando fui encontrado por um menino que me conhece. Ele estava acompanhado de duas meninas, e acabamos sentando na grama para conversar. Eu, muito quieto, muito ensimesmado, fiquei mais ouvindo. Depois de algum tempo, percebi que tinha ali três pessoas com questões de relacionamento muito curiosas. Uma das meninas, não entendi direito, havia traído e sido traída e queria a namorada de volta. A outra estava feliz e amando, mas sua respectiva mora longe, então elas não conseguem se ver direito. E o moço, que já me conhecia, traiu o namorado no dia anterior, "quando haviam brigado", mas diz que gosta dele e quer ele de volta e tal. Foi mais ou menos depois de ter entendido tudo isso que comecei a participar da conversa.

Em primeiro lugar, o menino não falou bem do namorado nenhuma vez. Não consigo imaginar alguém que se entregue a um relacionamento monogâmico e só tenha a falar mal de seu digníssimo. Onde fica a felicidade, o gostar, aquele sabor adocicado que caracteriza os romances? Sou dos que pensam que, se não há mais muito mais de bom, deve-se mesmo terminar. Caso ainda haja, a tendência é transparecer. Não?

Depois disso, tem a questão do relacionamento. Eu sou o último a defender namoros, relações um a um, fidelidade e tudo mais. Creio que sentimento não é algo que possa ser reduzido a duas pessoas e, pensando sempre para o futuro, acredito que a vontade de ficar com outras pessoas, de ter outras experiências, tende a aparecer. Não acredito que o quanto você se sacrifica por uma pessoa seja a medida do gostar. Decidi, já tem algum tempo, que só me relacionarei com exclusividade no dia em que olhar para a pessoa e acreditar que será pra sempre, que ela poderá me completar intensamente por um tempo além do que eu consiga conceber.


Aproveitando o gancho, outro tema que apareceu na conversa hoje foi o que seria gostar de alguém. Pra mim isso é bastante claro ou, no mínimo, perceptível. Quando estamos dispostos a dividir aquilo que temos de mais precioso e limitado, nosso tempo, é porque gostamos de alguém (ou somos bobos e não sabemos gerenciar a vida que temos). Não creio que haja qualquer coisa mais bonita do que querer compartilhar momentos, viver junto, oferecer um pedaço de sua vida para uma outra criatura.
A parte triste dessa coisa toda é que nem sempre as pessoas com as quais queremos dividir o nosso tempo querem nos oferecer o delas. Esse, aliás, deve ser o desencontro mais comum da humanidade.

segunda-feira, outubro 11, 2010

Algumas mudanças

Talvez esteja sendo estranho aos meus leitores usuais verem uma mudança política nas minhas colocações aqui do blog. Pensei na possibilidade de montar um segundo espaço virtual específico para discutir as questões relacionadas à política de identidade (ou de dissolução de identidades), mas ao mesmo tempo me dei conta de que eu sou essa raposa antropomórfica. Dividir meus pensamentos para torná-los mais coerentes e melhor acessíveis seria uma estratégia contrária à minha própria crença. Eu sou isso que vocês estão vendo, e uso o Laerte pra me defender:


Eu sou, ao mesmo tempo, a pessoa que agora está agindo politicamente, que estuda sexualidade, que gosta de jogar RPG, que escreve histórias, que vive autistando pelas esquinas do mundo, que se apaixona, que fez jornalismo, que é loiro, que poderia ser outro, mas não é. Opa, poderia ser, mas está.
Essa é a raposa antropomórfica: lar de amores, tristezas, reclames e políticas. Iei =)

Permitindo intolerância, parte 1

Hoje vi uma matéria no Mix Brasil e me pus a pensar não só no que ela está dizendo, mas também no que está sendo deixado de lado. Gostaria de analisar ao mesmo tempo o outdoor que ela questiona, evidentemente um exemplo danoso de como uma instituição pode fomentar preconceitos (parte 1), e os argumentos em que o autor da matéria se baseia para julgá-la negativa (parte 2). Estou dividindo esta postagem em duas partes, por serem objetos de análise distintos, ainda que o tema seja semelhante.

"Em favor da família e preservação da espécie humana. Deus fez macho e fêmea." diz a frase ao lado de um padre sorridente e carismático. Convidativo, até. Eu consigo entender a preocupação do pastor Silas Malafaia com a ideia de família, certamente prejudicada pela constituição de casais homossexuais. Evidente, se uma família é igual a um homem, uma mulher, dois filhos e um cachorro (ainda que atualmente esteja muito na moda ter uma tartaruga), quando colocamos dois homens sob o mesmo teto, ou ainda duas mulheres, a estrutura está interrompida, jogada fora. Concordo, um casal lésbico rompe absolutamente com a sociedade heteronormativa que reforça a noção de que a mulher deve ser subserviente ao homem, este por certo o chefe de família. Imaginem dois homens dividindo um lar: qual deles ensinará a filha a lavar a louça e a passar as roupas do marido? Quem dará o exemplo correto do gênero que deve ser seguido pelo macho ou pela fêmea?
Pensemos, portanto, quem está excluído dessa estrutura econômica chamada família. Quem não está autorizado a compartilhar dessa forma de organização heterossexual? "Ah, mas os gays agora podem casar na Argentina e em diversos países no mundo". Verdade, muito lindo, mas é isso mesmo que se deseja? Um emparelhamento da identidade homossexual (seja lá o que isso congrega) à heterossexual, às estruturas já definidas como corretas em detrimento de práticas e experiências que não são socialmente, juridicamente, muitas vezes religiosamente, aceitas? Pensemos, por um instante, qual o perigo de um filho ser criado por três pais, dois pais e uma mãe, duas mães e um pai, três mães. Ou, ainda, por onze transgêneros. Não é minha intenção aprofundar a discussão sobre alternativas à ideia de família tradicional, ainda, mas não pude deixar de observar o que está marcado no discurso do pastor.

Preservação da espécie humana? Não tenho nada contra essa ideia, e talvez seja até mesmo possível concordar que quando misturamos um macho e uma fêmea, mexemos e gememos, temos um filho e, assim, a espécie se prolonga.
Agora vamos cogitar uma linha diferente de pensamento, por favor? Os seres humanos estão vivos pra quê? Qual nosso papel na existência? A que viemos, pra onde vamos? São perguntas que movimentam a filosofia dos homens há alguns anos, já. Alguns milhares. Então existem instituições que dão essas respostas? Vivemos para esperar o paraíso, vivemos para escapar do ciclo eterno do sofrimento e atingir a iluminação, vivemos para o prazer, vivemos, vivemos pra tantas coisas. Eu não tenho essa resposta, mas convivo com a pergunta a tempo suficiente para arriscar alguns princípios de crença. Para mim, não faz sentido estar vivo se não estivermos experimentando, experenciando, existindo. Não digo, com isso, que todos devam provar todas as frutas (sim, é um eufemismo para sexo). Digo, antes, que se deve estar pronto a saber que todas as frutas podem ser provadas.
[Evidente, existem limitações não muito claras para esse todas. É uma questão com a qual me pego constantemente: qual o limite do aceite à diversidade? Se aceitarmos tudo, por que não admitir também práticas culturais de tortura, pedofilia e assassinatos? O mais próximo de solução para esse problema, sempre relativizável, é que devemos estabelecer certos parâmetros de intenções e possibilidades. Ainda que de forma maleável e discutível, pensar no bem estar do outro e assumir que não estamos sozinhos, ou seja, sermos solidários, parece um bom ponto de partida. Eu tenho direcionado minha existência com essa preocupação: não fazer mal aos outros. Super discutível, eu mesmo ainda levantarei polêmica sobre isso, mas só quando isso não derrubar meu próprio argumento...].
Com essa volta toda, gostaria de dizer que não vejo sentido em preservarmos a vida humana se dela não fizermos nada. Jorge Drexler canta sobre "mil vidas mal gastadas por cada mandamento". Não quero mesmo bater de frente com qualquer crença religiosa estabelecida. Minha preocupação, aqui, é que as pessoas tenham direito de viver plenamente, sem bloqueios morais que não servem para ajudar ninguém ao longo de sua vida. O pós-vida, para mim, não é uma preocupação, pois não entra no meu pacote de crenças. Se entra na de outras pessoas, como a do pastor que deseja a preservação da existência humana, não seria interessante que isso não interferisse nas existências de gente como eu?
[Ainda hoje estive lendo um texto de Jen Bacon chamado Teaching queer theory at a normal school, no qual ela problematiza o quanto o discurso da diversidade e da livre expressão deve permitir discursos de ódio. Parece-me ser o caso aqui].

"Deus fez macho e fêmea". E hermafroditas, acrescente ali, por favor. E provavelmente alguma outra categoria de exceção que, exceção ou não, é categoria que rompe com esse código binário. É fácil perceber a razão pela qual gatos não se vestem de gatas; por que lindos passarinhos não pintam suas penas; por que crocodilos choram por matar sua presa (mas não de tristeza). O que não é fácil, por outro lado, é entender homens que se travestem, adolescentes de cabelo rosa e falsidades teatrais. Por quê? Pois o ser humano é uma criatura cultural, que atribui significados a suas práticas que vão além das práticas em si, que colaboram e elaboram socialmente sentidos para determinadas atitudes, que compartilham valores, epistemologias, crenças. Dinossauros não rezavam para estátuas, rezando por um milagre vindouro (talvez por isso tenham morrido, vai saber?). Da mesma forma, homens inventam explicações para como o mundo funciona (magia, religião, ciência), acreditam nelas e, a partir daí, se justificam como detentores da verdade que todos os outros precisam saber e concordar, ou senão morrer.
[Eis o momento advogado do diabo: a própria noção de crueldade é cultural, e portanto depende do ponto de vista do qual estamos falando. Esse é ao mesmo tempo o perigo da relativização plena e a base para assumirmos alguma base nesse revolto mar de possibilidades. Repito que a minha base é o bem estar humano e a proteção do direito de cada um experienciar sua vida sem danos aos outros].
Sendo cultural, a base biológica perde grande parte de sua importância, como podemos constatar pelas relações que acontecem depois da definição macho/fêmea. É o caso do que os médicos (ou psicólogos? Enfim, os arautos das grandes narrativas da modernidade) chamam de disforia de gênero, ou seja, quando um menino nasce num corpo de menina ou o contrário. Ou, para não apelarmos para algo medicalizado, que tal um macho que apresenta características de um gênero feminino, ou ainda não apresenta marcadores específicos de masculinidade? São tantas as brechas no sistema binário de constituição das identidades que, mais do que defender o que é certo em contraposição ao que é errado, o que é normal ou anormal, bonito ou feio, precisamos aprender a dissolver essas definições sempre que elas causarem mal a alguém.

domingo, outubro 10, 2010

Sobre suicídios

Ontem estive conversando com dois amigos e ficamos comparando nossas histórias de bullying no período do colégio. Em primeiro lugar, gostaria de comentar como é verdadeiro o apontamento de Rogério Diniz Junqueira, no artigo Homofobia: limites e possibilidades de um conceito em meio a disputas, no qual em certo ponto é defendida a ideia de que as reações homofóbicas ocorrem principalmente por uma questão de gênero, mais do que de orientação sexual. São as pessoas que desafiam as normas de masculinidade ou de feminilidade que são perseguidas e ofendidas, que passam por sofrimentos e ataques na escola. Quem não rompe a expectativa de que um homem seja másculo está, de certa forma, protegido. "Tudo bem ser gay, mas não precisa parecer uma mulher". Existe muito nessa discussão sobre o que significa ser uma mulher (as feministas e os teóricos queer que o digam) e, também, o que é ser gay, essa categoria construída socialmente que não só se diferencia da de homossexual, como também não implica somente em um homem direcionar sua afeição a outro homem. Aliás, como bem me elucidou Susanne Luhmann, no artigo Queering/querying pedagogy? Or, pedagogy is a pretty queer thing, o constructo hetero/homossexual só faz sentido se tivermos categorias estabelizadas do que significa ser um homem ou uma mulher. Nesse sentido, uma fluidez de gênero por certo eliminaria (ou confundiria seriamente) essas classificações.

Bem, depois dessa breve teorizada, gostaria de apresentar uma matéria que li há uns minutos e adicionar algumas reflexões.


Sim, é muito provável que o menino tenha sofrido abusos, ora físicos, ora psicológicos, e que isso tenha se somado ao debate acalorado e aparentemente intolerante do conselho da cidade. Sim, é muito difícil lidar com o confronto diário, na escola, com pessoas que são diferentes de você e acreditam radicalmente que você deveria ser igual a eles ou, pelo menos, diferente do que é.
[Aliás, pensemos com cuidado nesse é, já que não quero falar em identidades fixas, muito pelo contrário: somos uma coleção de fragmentos que interagem e se transformam constantemente, tanto por conta do nosso contato com o exterior quanto por nossas experiências passadas, percepções, crenças etc].

Eu tive que ouvir, muitas vezes, xingamentos. Era seguido e empurrado por alunos mais velhos no primeiro colégio em que estudei. Já entrei em sala de aula, no segundo colégio, e no primeiro dia tive que ouvir gritinhos de gay e viadinho de pessoas que mal tinham conversado comigo alguma vez na existência.
[Preciso comentar que nessa época eu ainda lutava comigo mesmo e com essa ideia de orientação sexual. Ainda me apaixonava por meninas, ainda que platonicamente, e inclusive tive a chance de abandonar o platonismo e de fato me envolver com elas. Somente depois do colégio, anos depois, que tive a chance de ser enquadrado em qualquer classificação de homossexual, se formos considerar a necessidade de uma prática para essa definição. Se eu pensava antes, se sentia atração, desejo? Sim. Se entendia, manifestava ou procurava? De forma alguma no colégio. O que meus amados colegas percebiam? Que eu não tinha um comportamento marcadamente masculino, não jogava futebol, era frágil, sentava em posições diferentes, era flexível, falava manso. Gênero. Ser gay não é uma escolha: é uma marcação identitária que define a pessoa, que congela sua existência associando-a a determinadas práticas, desejos ou corporalidades].

O menino [que falta de respeito, recomecemos o parágrafo!]
Zach Harrington cometeu suicídio, provavelmente por não suportar a oposição que teria que viver, talvez, durante toda sua vida, por conta de uma imposição de identidade. Eu não entendo o que pode ter se processado na cabeça dele, pois quando as ideias de abandonar a existência vinham me visitar, eu as repudiava baseado na fé de que não-viver, pra quem nasceu, não faz sentido. Essa mania humana de querer dominar tudo, inclusive a duração do tempo de uma vida é algo que me assombra. Jorge Drexler canta sobre a obsessão humana de querer perdurar, e Neil Gaiman, através de sua personagem Morte, já disse em um lindo diálogo entre ela e um bebê: ao ter sua alma capturada, o bebê pergunta à Morte "era isso tudo que eu tinha pra viver? Algumas horas?", ao que é respondido "sim, o tempo de uma vida".

Creio que eu precisaria de algumas páginas, ainda, para explicar as razões pelas quais considero o suicídio uma escolha ruim. Quando li a matéria, me pus a pensar que diferença ele conseguiu causar com sua morte. E, mais do que isso, quanto mais não poderia ter mudado se ele permanecesse vivo e fizesse de sua existência uma luta constante pelo que acreditasse ser o correto?

Talvez, acima de tudo, o tempo de uma vida dele fosse justamente esse, de dezenove anos: o tanto que ele suportou essa dor que é viver.

sexta-feira, setembro 24, 2010

Noite

O problema maior de dedicar-me a viver a noite e dormir o dia não é o cansaço, mas sim as tentações noturnas. Deitando pelas 4h eu tenho muito mais tempo pra conversar no MSN, portanto precisarei aprender a ficar com o meu bem desligado, do contrário sofrerei terrivelmente com tempo desperdiçado. Ai Ai Ai.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Metáfora

Cheguei a uma metáfora interessante para explicar o que me ocorreu. Imaginemos um homem com fome, em meio a outras pessoas que também, mais ou menos, sentem a mesma coisa. Não falo vontade de comer, aquele desejo passageiro e, em teoria, inferior. Fome, necessidade, impulso vital que, faltante, nos leva à morte. Como isso é uma metáfora, a morte também o é, mas seria o equivalente a um vazio existencial, uma perdição de sentido.

Pois era eu um homem com fome em uma terra que ninguém dispunha de comida. A questão aqui não é a solidariedade de todos termos fome juntos e ninguém conseguir comer, longe disso. Cada um só come um prato, ou de um cozinheiro, enfim. É uma metáfora, oras, se esforcem.

Aí vem o dia em que alguém me traz um prato de comida. Ali, lindo, suculento. Tenho fome, então as particularidades de seu sabor não me importam tanto. A fome desaparece, satisfeita por uma comida que há muito não era experimentada. Logo após isso o cozinheiro se dá conta de que colocou um pouco mais de tempero do que deveria, e por isso o prato deveria ser recolhido e nunca mais servido. Afinal, que pecado, eu poderia reclamar e eventualmente desgostar de ser temperado demais, de menos, salgado, doce, frito.

Então eu pergunto: existe maldade maior do que oferecer comida a alguém com fome e, por achar que não está perfeita, recolhê-la logo depois de passá-la frente aos olhos do esfomeado?


x x x x x


Algo em mim diz que eu deveria sentir raiva, quando tudo que eu sinto é vontade de abraçar, ser abraçado, beijar e ser beijado, tudo em duplinhas fofas. O que me matava nunca foi a falta de atenção, mas sim não ter certeza de que eu era gostado. E quando essa certeza veio, e agora não falha, o resto me foi retirado.
Gostaria de saber que, se entrasse correndo de novo no banheiro, um olhar de preocupação viria atrás de mim. Que se eu deitar, poderei receber um abraço amado. Que deitar em camas separadas é um absurdo desnecessário em quase qualquer situação.

É, mundinho, eu continuo amando.

Direção

Passei por uns dias muito tristes recentemente. Vi-me apaixonado e afastado da possibilidade de experimentar o sentimento de modo completo. Não entendo as razões, se elas existem, para esse feito, e considero-me em grande parte ferido.

Experimentar essa sensação, dor, momento de felicidade que antecedeu tristeza, porém, serviu-me como uma bússula. Estou, de alguma forma, mudado. Ou mais interessado. Novamente interessado. Não sei, acho que recuperei algum sentido para o que estou fazendo aqui =)


Agora falta recuperar o amor ^^

segunda-feira, setembro 20, 2010

600, ou o monólogo da raposa abandonada

Não sei se foi o pica-pau batucando uma árvore, as formigas carregando suas filhinhas para as infindáveis cavernas de areia, ou ainda o jato d'água que, contra a luz do sol, criava um esmaecido arco-íris. Não sei se foi, também, a estranha coincidência de estar no mesmo lugar que tu e cair lá por sugestão, talvez, do destino.
Te ver seguindo absolutamente hermético me traduziu os sentimentos. A dor do fim ainda me acompanha e certamente seguirá, mas agora ela está de alguma forma transformada. Mesmo sem acreditar em "para sempre", eu te escolheria para me acompanhar nesse trajeto de tamanho e duração incompreensíveis. "Não vai dar certo", tu diz. É esse o destino de tudo que termina, e falha-me a sabedoria em localizar algo que seja, enfim, para sempre. Acaso o tempo verbal fosse outro, eu poderia entender. "Não está dando certo".
Um coração apaixonado se cega, não percebe o que aflige ao outro. Tudo o que deseja é fazer sorrir, é compartilhar felicidade. Não, não fiquei chateado pelos momentos em que não estivemos juntos. Repito: não conheço o suficiente para saber o que guia tuas escolhas.

A única coisa que hoje eu sei é que eu não te completei da mesma forma que tu me completou, e que essa é a triste verdade por trás do que não daria certo, assim como é a triste verdade que regula toda a vida. Não é porque eu amo que serei de volta amado na mesma intensidade.

Mentira, sei de algo mais. Se um dia estamos felizes e no seguinte estaremos tristes, não faz sentido antecipar a tristeza só por saber que ela chegará. Entre toda a falta de sentido da vida, não buscar aumentar a felicidade ao máximo parece-me a escolha menos inteligente que alguém pode fazer. Talvez, inclusive, a menos perdoável.

Sanar - Jorge Drexler

Las lágrimas van al cielo
Y vuelven a tus ojos desde el mar.
El tiempo se va, se va y no vuelve,
Y tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar.

La tierra parece estar quieta
Y el sol parece girar,
Y aunque parezca mentira
Tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar,
Y va a volver a quebrarse
Mientras le toque pulsar.

Y nadie sabe por qué un día el amor nace,
Ni sabe nadie por qué muere el amor un día,
Ni nadie nace sabiendo, nace sabiendo
Que morir también es ley de vida.

Así como cuando enfríe
Van a volver a pasar
Los pájaros en bandadas.
Tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar.

Y volverás a esperanzarte
Y luego a desesperar.
Y cuando menos lo esperes,
Tu corazón va a sanar,
Va a sanar,
Va a sanar,
Y va a volver a quebrarse
Mientras le toque pulsar.

domingo, setembro 19, 2010

Across the universe

Vinte e uma horas depois começo a me sentir no controle de algumas palavras, espero que suficientes para contar ao mundo o que está dentro de mim. Andava, até sexta-feira, com duas dúvidas cruéis sobre minha cabeça. Elas versavam, em primeiro lugar, sobre o que estou fazendo aqui no centro-oeste do país, e em segundo, o que atrai meu coração numa pessoa.

É muito difícil entender o que motiva uma pessoa a seguir seu caminho, seja ele qual for. Por muito tempo minha vida foi seguir caminhos grandes, trilhas que eu não precisasse muito esforço ou decisão depois que o caminho houvesse iniciado. Foi assim quando saí do colégio, desta forma ingressei na faculdade, fiz minha especialização e, agora, estou em Goiânia fazendo mestrado. Coloquei, como lugar de chegada, ser um professor e, assim, tocar as pessoas e impedir que suas vidas fossem sem sentido como a minha até então.

Aprendi, com a participação de algumas pessoas, o valor de certo sentimento. Permiti-me, depois de muito esforço, a amar meus amigos. Cada um a seu tempo e com sua maneira, fui sendo tocado e moldado, muitas vezes empurrado e outras levantado. Amando. Perdi o medo de beber, de fumar, de me jogar ao desconhecido. Perdi o medo de ter medo, também, e isso me mostrou que não posso dominar ou controlar tudo, mas sou muito bem capaz de conviver com meus monstros. Eles estão aqui, gritando, chorando, vivendo.

Em meio a tudo isso, porém, sinto-me sozinho. Pensando no universo como algo mais amplo, creio ser óbvio que não, que existem amantes que me querem bem, que me anseiam perto. Hoje assisti a Across the universe e não falho em pensar que uma vida sem amor é uma existência sem sentido. Como bom humano, não tolero a inexistência de sentido. A conclusão óbvia, me parece, é voltar para Porto Alegre e estar próximo dos que eu amo, independentemente de ser professor, estivador ou caixa de cinema. Não é lógico? Meus amores estão lá, vivendo suas vidas e sentindo minha falta, tanto quanto eu sinto a deles. Aqui em Goiânia estou sozinho, sem uma pessoa a quem eu possa pedir um abraço e esquecer-me de quem sou. Aquele tipo de conforto que não tem palavras, mas que inebria e preenche. Se demorei tanto para aprender a amar, que motivo me distancia das pessoas que amo?

Talvez seja egoísmo pensar em voltar agora. Aliás, existe altruísmo? Imagino se meu retorno não me pararia a viagem e me estabeleceria, novamente, fronteiras.

Descobri, por esses dias, que amo alguém aqui em Goiânia. Uma pessoa que já me ofereceu abraços que me deixaram feliz, cujo beijo encaixou no meu. Um alguém que me toca e acalma, anima, conforta. Uma pessoa que surgiu do nada, mas vê o mundo com olhos parecidos com os meus, que entende que nada tem sentido se nós não dermos um, que respira entre o cansaço das vidas cinzas (posso chamá-las de "vidas"?). Uma pessoa com cores que vão muito além da óbvia metáfora sexual.

Essa pessoa era uma estátua de areia e agora bateu o vento.
Eu não quero esquecer o jeito que fui tocado por esses grãos de felicidade, pela límpida certeza de ser amado. Maldita dúvida que permitiu a brisa voar. Por que estamos fadados a viver perdendo, quando podíamos estar ganhando? De fato, o céu azul e isso me faz chorar. Creio que o fará sempre, agora, assim como os campos de trigo fazem a raposa sorrir.


Eu não acredito em amor eterno, tampouco em alma gêmea. Meu romantismo não vai tão longe. Porém eu creio, com toda força, em duas pessoas que se gostam e se esforçam para que suas vidas funcionem em sintonia. Amar alguém não é desejar perfeição.

E ainda agora eu olho para o que já foi um ingresso, já foi uma pulseira, e agora é um coração.

Palavras pequenas

Dia triste.

O manual continua valendo, a pessoa é que mudou.

quinta-feira, setembro 16, 2010

A pessoa que não tem segredos

Hoje um amigo pediu-me para guardar segredo de algo que me disse. Ele foi bastante específico a respeito de quem não poderia saber da informação, e ficou de me explicar, depois. Primeiro me pus a pensar se realmente desejo saber os seus motivos, já que também me relaciono com as pessoas que ele deseja manter no escuro. Fico curioso pra saber que motivos são esses, a fim de justificar esse ato de não contar. Claro, estou pressupondo que, por serem amigos, eles devam seguir o princípio da horizontalidade, mas tenho percebido que essa não parece ser uma preocupação típica dos seres humanos habituais.

Só depois de algum tempo me dei conta do que isso pode significar. Se eu entrar no jogo do "ok, não conto", será que caio fora do que defendo? Ou ser horizontal se limita às questões que me envolvam, mas a ninguém mais? Nesse tipo de ética, creio, não há muito espaço para se falar quase nada, pois a maioria das nossas experiências são, geralmente, no coletivo.

Eu quero ser uma pessoa que (quase) não tem segredos. Existem partes de mim que ninguém sabe. Existem histórias que nem irmãos se contaram. Segredos. Eles também constroem quem nós somos?

Afetividades

Existe algo sobre relacionamento com outras pessoas que, apesar de já explicitado na própria frase, costuma ser esquecido. Construímos um modelo ideal de personalidade, comportamento e desejos para alguém nos completar, uma "lista do que precisamos para ser amados e amar alguém" (e tem coisa mais idiota que tal listagem?) e, ao encontrarmos alguém, esquecemos do óbvio, do evidente, do ululante. É outra pessoa.

Dessa conclusão, pequena, porém transformadora, surgem inúmeras outras. Uma delas envolve toda a tradição do pertencimento, o pensamento romântico de que duas almas foram feitas uma para a outra; sendo o sacrifício a forma de demonstração desse querer. A gosta de B porque abre mão de C-Z.

Entender que nos relacionamos com outros nos permite enxergar, também, que são as experiências que a pessoa teve em sua vida que a constituem. Portanto, de que valhe aquele ciúme frágil sobre as relações passadas ("ex bom é ex morto"), se são justamente essas interações que a levaram a ser tão apaixonante?

terça-feira, setembro 14, 2010

Qual o sentido da vida?

Essa é uma questão que se apresenta de tempos em tempos. Eu sei a resposta: nenhum. Ocorre que, de vez em quando, consigo me enganar por alguns instantes, esquecer e acreditar em alguma coisa. Felicidade, essa coisa instável, depende da fé em estarmos fazendo o certo, recebendo o bom.

Penso no mestrado, nas letras que não tenho colocado no papel, na superficialidade das imagens técnicas (valeu, Flusser), na história sem fim. Isso tudo serve pra que?

Há algum tempo cheguei a uma alternativa ao vazio existencial. "Ser feliz" é um objetivo palatável. Aí surge outro leque de questões: como fazer pra alcançar tal estado de graça? É tudo um grande jogo. Tenho geladeira, pago minha casa, troco por estudos e pensamentos, leituras e participações. O que muda? Algo precisa mudar? Pra ser feliz, o que é necessário?

Algo me diz que segue sendo sempre o mesmo: ser feliz é acreditar que a vida não é vazia de sentido. Ser feliz é se enganar. Felicidade, portanto, é uma mentira. Se sou um pesquisador e estou atrás da verdade, isso quer dizer que a tristeza será minha companheira sempre que eu chegar mais perto de aprender algo?

Divagando.

Colocar em palavras

Viram que mudei uma das fotos do blog? Contribuição especial da minha amada vivian, que achou minhas raposas muito pouco antropomórficas. Agora creio que com essa carinha de matadouro ficou mais próxima do que há por dentro de mim =)

x x x x x

Sou apaixonado por vozes. Algumas me arrepiam, apaixonam, movimentam. Outras simplesmente não chamam atenção. Enquanto pensava sobre isso, tentei manifestar meu amor e explicá-lo, mas descobri que não tenho palavras para descrever o tom, o timbre, o sotaque, a fluência das vozes que me harmonizam o coração. O passo seguinte foi duvidar das razões que as pessoas têm, especialmente os poetas, em tentar passar para os outros o que sentem, colocar em palavras experiências que, em última instância, são só suas e nunca serão igualmente de outros.

Traduzir emoções em palavras.

Sempre que penso em voltar a escrever, deparo-me não com a dificuldade em fazer essa transmutação, mas sim com a incerteza do que botar no papel. Quais palavras, vozes de quem, sentimentos tantos esperando para serem concretizados... e deixarem de ser o que são.

Parece-me que ser humano é algo profundamente solitário.

segunda-feira, setembro 13, 2010

Tire uma foto, por favor

Ontem tive visitas, vinho, risadas. Um fim de domingo adequado para uma pessoa cheia de sorrisos. Depois avancei a madrugada trocando músicas com um amigo. Alguém pode me culpar por não querer nada mais além do que já tenho? Bem, eu poderia, pois sei que quero muito, muito mais do que hoje me pertence.

É complicadinho fazer algumas escolhas. O relógio grita que está na hora, que está passando da hora, que já não tenho mais tempo. Ainda assim fico parado, observando os minutos desmancharem-se. Um passo pra frente e o golpe não acontece. Um movimento e tudo poderia ser diferente.

mmm
acho que reconstruir o muro vai ser mais difícil do que eu pensava

quinta-feira, setembro 09, 2010

Liberdades sentimentais

Estive pensando hoje sobre as diferenças entre o plano teórico e as nossas atitudes no cotidiano. Sou um profundo defensor da poligamia, do poliamor, das amizades coloridas e da vivência sem barreiras, ciúmes ou posses. Tudo isso, claro, na teoria. Embora eu viesse vivendo perfeitamente bem seguindo estes princípios, deparei-me com o ciúme agora que vejo-me atraído por alguém para além do campo físico.
Creio que o que me protegia era a distância sentimental. Eu quase escrevi "a falta de um querer bem", mas neste caso estaria mentindo. Nos meus relacionamentos mais duradouros pós-namoro, o querer bem sempre foi uma constante. O que faltava, isso sim, era o querer perto.


Não estou, hoje, com um pensamento muito estruturado. Pus-me a pensar, agorinha, sobre momentos na vida das pessoas. Será que o que estou vivendo poderá não se tornar algo maior em função de duas pessoas estarem em instantes de vida distintos, impossíveis de conciliar? Quero dizer, depois de todas as condições necessárias para nascer algum tipo de interesse, ainda precisamos depender das temporalidades estarem alinhadas ou, no mínimo, conciliáveis? Que crueldade!

quarta-feira, setembro 08, 2010

Mudança mágica

Foi meio assim sem pensar. Rápida mesmo, quase como um susto. Eu estava cabisbaixo, no meu quarto de luz apagada e meu computador sem nenhuma música tocando. Minhas coisas empacotadas e ensacadas, aguardando a partida que não pretendia mais acontecer. Triste. Então eles decidiram me ajudar e, aparecendo lá em casa com presteza, se puseram a carregar móveis, malas e ânimos, renovando minha vida.

Sempre fiquei ponderando que características compõem uma amizade. Medindo, analisando que pessoas são favoritas, que outras podem ter chance de atravessar meu muro de gelo. Mesmo quando resolvi derrubar a tal da defesa, ainda não era fácil chegar em mim. No meu coração.

Agora penso ser engraçado o modo como me entrego à possibilidade de fazer amigos surgidos de um contato breve de relação. Espero que esse nadinha se torne muito, e que se construa relações baseadas não apenas em ajudas e participações, mas em confianças e vontades de estar próximo.


=)

Traição?

Depois de escrever o último post e ficar alguns dias sem acesso ao mundo virtual, segui pensando sobre um tema que havia me proposto discutir, mas deixei passar. O que significa trair alguém?

A resposta parecer ser bastante óbvia quando pensamos em um relacionamento devidamente estabelecido, com suas regras forjadas em toda tradição dos encontros a dois. Contudo, fico imaginando se é mesmo tão evidente. Pensemos, por exemplo, numa tórrida noite de sexo com um amante (e que palavra menos apropriada). Podemos considerar traição quando tudo que esteve envolvido com a outra pessoa foram momentos de prazer, trocas químicas e prováveis contatos físicos? Fico pensando se não seria o caso de considerar traição, juntamente, tudo que envolver o toque com outras pessoas. Apertos de mão? Beijos de cumprimento? Ora, sentir-me-ei traído a partir de agora se um amado meu se abraçar com outra pessoa.

Creio que a perspicácia já permitiu entender o que estou defendendo aqui, não é mesmo? Se o amante, que na verdade não ama, apenas transa, caracteriza traição, então o que está em jogo é uma questão de propriedade. O meu está sendo usado por outra pessoa. É o meu campinho, então eu escolho as regras. Sem a minha bola, ninguém joga. Eu aprendi, na minha formação cultural, que uma das formas de respeitar as outras pessoas é não ofender esse princípio básico de pertencimento. Contudo, ninguém nunca me disse que eu não sou de nenhuma outra pessoa além de mim mesmo. Será que esqueceram de contar que eu não pertenço a ninguém, que do meu corpo o único que pode fazer pleno uso sou eu?

Nesse ponto entra em questão o ciúme, gerado pela ideia de traição. Nos dias recentes me consumi de raiva por conta de uma situação bastante incômoda sob o olhar tradicional dos bons costumes. E como fui bobo ao me entregar a esses desvarios, uma vez que em momento algum algo meu foi violado. Raiva eu entenderia de sentir se houvessem me machucado, roubado ou algo parecido. Se uma promessa me tivesse sido quebrada, pois até o momento entendo que as palavras podem ser entendidas como extensão daquilo que é meu. Se alguém me promete um sorvete e não o dá, bem, há um problema. Um pequenino, mas ainda assim um problema. Porém, se um par romântico dança com outra criatura, sensualiza com amigos e inclusive se permite ser tocado por pessoas não tão amigas (ou com intenções posteriores)... do que posso reclamar? O que de meu há nisso tudo, além do ciúme?

Fiquei pensando, depois de horas me remoendo, se havia algo de acertado em ter raiva do moço da camiseta amarela, ou ainda da criança da floresta. Não foi fácil me convencer de que mesmo um beijo não poderia ser repreendido, não tanto pela inexistência de um compromisso firmado quanto pela não existência de um contrato de dominação. Eu não sou dono do corpo dela e, muito menos, de seus prazeres. Fui criado para acreditar que sim, mas não.

Não tenho certeza como devo encarar isso. Gostaria de ser capaz de eliminar todo ciúme que o mundo me impôs, mas não é tão fácil. Não tomarei atitudes drásticas, isso pra mim é certo. Não travarei confrontos sem fundamentos. Porém, acima de tudo isso, eu ainda tenho certas crenças que, mesmo mudando a cada minuto, ainda significam muito para mim. Esse é o conflito no meio do qual estou agora: acredito que a criança da floresta poderia ter pensado duas vezes antes de se permitir agarrar por uma pessoa com intenções ulteriores, mesmo que nada além de abraços e encoxadas tenha acontecido.

E se tivesse sido dado um beijo, como eu reagiria? O que pensaria a respeito?

Ainda não sei. Sinto, em mim, vontade de me agarrar a um relacionamento tradicional, dada a aparente segurança que ele traz. Certezas são tão menos problemáticas que dúvidas.

Eu queria ter certeza de que pensar tudo isso está me servindo para algo =)

segunda-feira, setembro 06, 2010

raposa antropo[loga]mórfica. Ou "relacionamentos"

Hoje acordei bastante pensativo, alimentado que estava de eventos, encontros e elementos. Certo, não eram as palavras que eu utilizaria normalmente, principalmente a terceira, mas achei interessante iniciar tudo com E. Pois então, estou em Goiânia já faz uns seis meses, se não contarmos as férias, e finalmente dei por conta de algo que todo mundo já me avisava aqui. Antes de comentar, porém, preciso fazer uma pequena introdução sobre minha postura teórica a respeito de relacionamentos.

Eu não acredito em monogamia. Percebam, antes mesmo de eu explicar as razões, que não estou falando em não crer em respeito, consideração, amor. O que não concordo é com essas atribuições serem dadas a uma pessoa só, quando existe um mundo gigantesco de possibilidades. Por quê? Bem, pelas minhas experiências, a probabilidade de um casal estabelecido eventualmente sentir atração física por outras pessoas é grande. Dentro disso, há uma larga chance dessa atração, estando contida, gerar desconforto. Essa pequena bolha crescerá e machucará a relação, provavelmente sendo utilizada, algum dia, para justificar (inconscientemente) o término.
Quando entendi que amar alguém não significa ser dono do corpo do outro, ficou mais fácil entender que a poligamia e, principalmente, o poliamor, são práticas possíveis. Remove-se o peso da pertença e do ciúme, liberando os corpos para flutuar entre desejos. É um voto de confiança, pois o medo de aparecer alguém melhor, alguém mais bonito ou algo assim, está ali e se for alimentado com insegurança, tende a se desenvolver.
Não consegui, ainda, experimentar essa relação ao seu máximo. O mais próximo que cheguei disso envolveu ficar com outras pessoas conforme a vontade viesse, mas manter a proximidade com uma pessoa. A inexistência de sentimento, porém, terminou tudo. Falta, sempre, a parte da confiança.
Aí acontece que me interessei por uma criaturinha, ao mesmo tempo em que perdi interesse por outros. Talvez seja algo passageiro e logo retorne meu sempre tão aflorado desejo, mas posso dize que hoje eu não desejo nenhuma outra pessoa, mesmo que em uma festa eu receba um "passe livre" pra fazer o que quiser, ficar com quem eu olhar etc.

Certo, agora uma pausa para analisar o povo goianiense. Quando vim aqui pela primeira vez, em dezembro, e fui a uma festa, descobri um peguetinho que alternava entre ficar comigo e sensualizar com seus amigos. Essa sensualidade toda envolvia abraços fortes, carinhos lascivos e esfregadas entre partes íntimas. Fiquei incomodado, mas tudo bem, era apenas uma noite, um menino que não entraria pra minha vida e uma incerteza de passar no mestrado.
Então cheguei em fevereiro e engatei um relacionamento de dois meses. Já inspirado nas minhas crenças, tentei algo aberto, mas houve um desencontro de entendimentos e acabou que nós dois tínhamos duas relações ao mesmo tempo, cada um com as suas regras. E ainda que eu não houvesse percebido, ainda, a semelhança, meu digníssimo também se envolvia em rituais de contato físico acentuado com seus amigos e, inclusive, com alguns desafetos. Bem, no caso dele, não existiam desafetos, ele sempre foi todo diplomático, todo "não quero perder meu lugar na noite". Bem, é a personalidade de cada um.
Terminamos, e eu segui pra minha rotina de pegações desenfreadas. Beijo, sexo, amasso, conversa, eventualmente algo divertido. Sem envolvimento sentimental, estive bastante livre de problemas com as questões que venho descrevendo.
Então comecei com o moço da química, que até hoje me rende referências das pessoas que souberam que eu estava me relacionando. Bem, realmente parecia que iria pra frente, na estrutura de uma relação não nomeada que, na mão dos dois, era bem compreendida. O seu fim não veio por desencontros, mas por insatisfação, mesmo. O modelo não era adequado para os dois, infelizmente. O que reparei, mas pela primeira vez não me incomodei, foi que a dança servia de desculpa para os mesmos afagos e agarramentos. Participei de alguns, especialmente os que não envolviam músicas, mas sim quatro ou cinco pessoas numa mesma cama.

Então cheguei ao hoje. Estou interessado em um certo nível que moveu algo de sentimento. E por entender que meu desejo por outros esmaeceu, chamei isso de "interesse monogâmico". Até o momento temos quinze dias de algo indefinido, tempo em que estamos apenas começando a conhecer uma pessoa. Já descobri que nossos gostos são muito parecidos, acho o sexo realmente agradável (coisa rara nas minhas experiências) e a companhia dele me alegra. Estar de mãos dadas, mesmo em silêncio, ou abraçados, ou cabeça no colo; tudo isso me deixa meio nas nuvens.
Porém, ontem descobri que o padrão goianiense também se aplica. Lá estavam as mesmas brincadeiras, as mesmas permissões. Senti ciúme.

Pensando sobre isso e como descreveria nesta escrita, me dei conta de que, ao pensar em ser monogâmico, lembrei-me de como um relacionamento podado socialmente costuma ser. Abandonei dos meus pensamentos todas as ideias de liberdade de corpos e fiquei agarrado às tradicionais noções de traição e controle das ações do outro.
Eu não tenho um relacionamento com regras estabelecidas, no momento. Tudo que tenho é "indefinição" e falta de vontade de ficar com outras pessoas, além de ciúme do corpo dele. Realmente senti que queria que fosse apenas meu para proteger num quarto afastado de todos. Estou confuso, agora que teorizo a respeito, pois sinto uma coisa, mas penso outra.

Ah, pra concluir minhas dúvidas, a maior parte dos goianienses defendem a monogamia. Desses que mencionei, apenas um apreciou a ideia de algo poli. Fico, então, confuso demais. Como resolver essas questões? Devo me agarrar aos sentimentos e permanecer triste por me sentir deixado de lado, enquanto corpo? Ou devo lembrar-me do que acho intelectualmente correto e entregar-me às trocas de carícias que essa cidade tanto preza?

Eu associei, como é tão fácil aos viventes da nossa cultura, reclusão à demonstração de sentimento. Se privar, sacrificar, como forma de se mostrar interessado. Não sair com os amigos, não deixar eu passar sem vir atrás, me procurar até encontrar, misturei tudo isso com a palavra "gostar". Como se fossem sinais obrigatórios, características fundadoras do sentimento. Isso tudo me prova que, apesar de meu raciocínio ser muito libertário, ainda meu coração não entendeu como deveria reagir ao mundo. [o que é curioso, devo dizer, se considerarmos que cérebro e coração deveriam ser uma coisa só]

Ainda não sei o que fazer, o que pensar, o que sentir.
Sei o que estou fazendo, pensando e sentindo.



* * * * *

(8) One day I'll grow up and be a beautiful woman
but for today I am a boy (8)

sábado, setembro 04, 2010

Coisinhas

Deu vontade de colocar algumas das imagens que fiz download por esses dias. Tenho que atualizar a minha lista de links ali do lado, pra que elas façam sentido. Enfim, foi só pra matar minha vontade de publicar imagens e não abrir um fotolog ou tumblr ou whatever =D












Fechando um arco

Hoje concluiu-se um arco na segunda temporada em Goiânia. Vamos recapitular, crianças? Desde o início do seriado, vamos lá!

1986 - 2005: estudante nerd, escassez de sentimentos, problemas em casa, coadjuvante. No fim de 2005, creio que os roteiristas perceberam o meu potencial para protagonista e resolveram agitar as coisas.
2006, primeiro semestre: aqui começou o processo de socialização. Aprendi a receber elogios, a elogiar, a andar de mãos dadas com meninos (amigos), fui para festas, comecei.
2006 - 2008: época dedicada exclusivamente a uma criaturinha. Dois anos e alguns meses inspirados num namoro que muito me ensinou. Obviamente eu seria uma pessoa completamente diferente se não tivesse passado por essa relação.
2009: recuperação do tempo perdido. Se não tive infância e adolescência, certamente tive um período de aventuras muito intenso. E intensas. Até o fim do ano alcancei meus desejos e projeções mais imediatos.
Meses de despedida: meus três últimos meses em Porto Alegre foram os mais agitados e melhor vividos que já tive. Trabalhando, saindo, me relacionando, amando. A tristeza de partir só fez sentido pra mim nesse período, em que tive tudo que sempre quis e precisei deixar para trás.
2010, primeiro semestre: mundo novo, relacionamentos diferentes, cenário completamente reconstruído. Creio que foi o momento de passar por uma reformulação em mim mesmo, descobrir se eu gostaria de ser o forasteiro misterioso e afastado de todos, ou se preferiria ser a pessoa que sorri e conhece gente nova. Demorei um pouco demais a entender que para ser cativado eu precisaria estar disposto, também, a cativar.
2010, férias: período de reencontros, abraços, lágrimas. Quem eu amo não me deixará, mesmo que fique distante. Isso me preenche de certezas. Por mais que eu estude as dúvidas, são as certezas que constroem estabilidade.

2010, segundo semestre, findo o primeiro mês: voltei de Porto Alegre decidido a me mudar e a construir pontes verdadeiras até o coração das pessoas que eu quero. Estou investindo nas amizades que Goiânia me ofereceu, encontrei um apartamento e, depois de muita correria, agora ele é meu, e também estou com o peito aquecido. Batendo suave, o coração diz que está contente com as conquistas e reza para alcançar ainda mais. Eu quero =)

sexta-feira, setembro 03, 2010

Nascimento

A raposa antropomórfica nasceu em 30 de outubro de 2006. Questão de meses desde o momento em que comecei a existir. O que não está registrado aqui, basicamente, é o meu processo de treinamento social e de início de construção de pontes de confiança. Amizades. Um pedaço de história não contada, também, envolve o início do meu ex-namoro, primeiro e único relacionamento duradouro até hoje. Uso como parâmetro de duração um mínimo de seis meses. Contabilizo algumas relações de um mês, umas duas de dois e uma que se arrasta no tempo e, curiosamente, no espaço.

Tomei a decisão, logo que findo meu namoro, em 15 de novembro de 2008, que não namoraria novamente até sentir algo parecido com o que me fez namorar. Aquela confiança, aquela vontade de se doar, de participar, de ter. Movido por uma irritante certeza de que aquela sensação nunca mais voltaria, dado o enterro da inocência, fui vivendo e conhecendo o que o mundo tinha a me oferecer. Nesse processo, aprendi que a inocência ainda pode existir, a ingenuidade nunca me abandona. É possível.


Por isso sigo escrevendo na raposa antropomórfica. Ela é um registro da minha vida, do que eu sinto e do que eu quero sentir. Hoje, por exemplo, continuo feliz. Motivos? Hah, leitores, leitores, vocês sabem que eu não jogo com informações explícitas ^^

Lista do amor (adendo)

Uma correção sobre o segundo item... não é questão de eu me sentir amado, mas sim de haver reciprocidade de interesses e vontades. Se um quer algo que o outro não quer, a coisa desanda. Se um não quer algo que o outro quer, a coisa também vai mal. O equilíbrio entre essas duas brincadeiras é que acaba fazendo as coisas funcionarem.

Então fica a dica, criançada, reciprocidade.



Ah, e só pra não escrever num post separado: eu estou feliz.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Metapostagem

Engraçado, eu já estava pensando nisso há mais tempo...

A lista do amor

Proponho-me a fazer uma lista do que é necessário para eu amar alguém. Uma lista grande, completa, detalhada. Ainda não cheguei a todos os itens; pra ser sincero só pensei em dois. Como estou com vontade de escrever, eles serão descritos agora!

1. Deve me entender.
Acho que isso é o básico pra conquistar meu amor. Como posso amar alguém que não entende aquelas curvas misteriosas do meu ser? Originalmente era "deve saber meus segredos", mas isso não é pré-requisito. Eu amo pessoas que não sabem o que eu fiz no verão passado, e a tendência é que eu tenha cada vez mais verões e cada vez menos conhecedores. De toda forma, acho que o "deve" está até muito forte. Coloquemos um "tentar". Claro que não pra sempre, mas de início é muito bom. Se a pessoa continua, pro resto da vida, sem me entender, é porque não conseguiu juntar as pistas e já não faz mais sentido perto de mim.

2. Precisa me fazer sentir amado.
Desde os tempos do colégio eu não tenho mais paciência para platonismos. Ficar olhando pra uma pessoa e não saber se ela te quer? Dar um beijo e não saber se será o último? Ahn, por favor, me abraça e diz que me ama e vamos lá! Não acredito em amor eterno, então não prometo que não vá parar de amar quem não me amar de volta. Sim sim, capitalismo, tu compra, eu vendo, eu compro, tu vende. Hah. Além do mais, tem coisa mais fofa do que ouvir, enquanto sente o cafuné na cabeça, "ei, sabe que eu gosto de ti?".

*-*

terça-feira, agosto 31, 2010

Quero menos tempo

Estou com muito disponível, posso fazer o que quiser. Quando, como, onde. Minhas obrigações são relativamente pequenas. Minha fibra para lidar com o dever, também.

Para alguém que era simplesmente imune a sentimentos, estou amando demais, odiando demais, vivendo demais.

Silêncios

Muita gente tem medo de ficar calada quando próxima de uma pessoa querida. Talvez role aquele sentimento de que se não há nada para falar é porque o amor não é tão grande. Eu meio que pensava assim, talvez ainda nem tenha trocado completamente de ideia, mas algo hoje me fez repensar isso rapidinho. Assistindo a Pulp Fiction eis que dou de cara com uma fala ótima: That's when you know you've found someone special... when you can just shut the fuck up for a minute and confortably share silence. Talvez eu tenha errado alguma palavra na transcrição, ser fiel às letras não é o propósito. Estou a pensar, neste exato instante, quantos silêncios não me incomodam, que momentos da vida consegui ficar calado e não sentir a urgência de conversar, de dizer algo, de participar. Participar. Escrevo como se a mera presença fosse nada, fosse mera; como se um silencioso abraço não tivesse nada a dizer; como se a tristeza de um dia de sol fosse, de alguma forma, mais real que a de uma noite de nevasca.

Estou acostumado a viver em meio ao silêncio.
Não me espanta que um som repentino me atraia tanto a audição.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Desejo?

desejo ler poesia
admirar quadros
ai
desejo tanto
conquisto tão pouco
deveria desejar menos
conquistar mais

domingo, agosto 29, 2010

Aquela outra solidão

O coração aperta como se os dias não fossem mais coloridos. O céu cinzento não de dias chuvosos - quem seria o poeta tolo a afirmar que dias chuvosos são necessariamente tristes? -, mas de pesada canseira. Não sinto apenas saudade, seria um bocado tolo colocar nestas palavras. Simplista, também. O que sinto é mais um tipo afinado de solidão, diferente da costumeira que resulta da ausência de companhia. Esse tipo, mais específico e especialmente mais dolorido, só nasce a partir da presença. É um desejo de estar junto, de sentir o coração batendo em compasso com outro, um dedilhar romântico de instrumentos musicais. Um estar só possibilitado pelo passado em conjunto.

Defensor são das paixões contidas, agora experimento uma segunda (ou terceira, ou vigésima) vez a sensação de querer sem saber se há retorno. Eu desejo não apenas fisicamente; aliás, o físico não tem importância num primeiro momento. Não esperaria sexo como a consumação desse gostar. Um abraço faria o serviço. Deitar a cabeça e sentir-me confortável, saber que posso fechar os olhos e ficar protegido entre sonhos e sorrisos.

Aguardo, só, o momento do próximo sorriso. O tempo, o espaço, as pessoas: tudo sempre conspira para dificultar as perfeições. Nada pode ser perfeito enquanto vivo, eis a ironia. Só se pode ser feliz se soubermos o que é sofrer.


Hoje eu sofro desse mal chamado felicidade.
Aperta, dói. Dura pouco, apenas algumas gotas num rio caudaloso.


Não sei mais como traduzir em palavras esse tipo de sentimento. Não lembrava como era, permanente curiosidade e vontade. Desejo, dúvida, dor. Ser feliz dói demais. Ao contrário de outros momentos, disponho-me. Dispo-me de teorias, por enquanto, abrindo os braços a fim de conhecer o que não posso alcançar com o coração fechado.

Se vai doer?
Já dói.

terça-feira, agosto 24, 2010

Segundo semestre

Acho que a coisa toda está começando de verdade agora. Estudos, trabalhos, moradia nova, batidas mais fortes no coração. Tenho medo de escrever isso agora, tão cedo, mas estou bem contente que meu caminho tenha sido cruzado por uma pessoinha bonita, inteligente e com gostos parecidos com os meus. Nham *-*

segunda-feira, agosto 16, 2010

Filosofia da porta fechada

O cenário é uma casa em que vivem quatro pessoas divididas em três quartos. Cada um desses aposentos possui duas portas, uma para a saída e outra para as dependências comunais, ou seja, banheiro e cozinha. O primeiro dos quartos é acessível por uma porta frontal, enquanto os outros dois possuem suas entradas num corredor lateral da casa. No primeiro desses quartos laterais moram duas pessoas. É por isso que, para chegar até seu quarto, o último morador passa pela porta dos três demais (a frente, ocupada por uma pessoa, e a primeira lateral, por outras duas). Uma posição de privilegiado contato social.

Imaginaríamos que as portas internas seriam as de maior uso para o convívio. Até morder meu pão com margarina e queijo eu também assim pensava. Entreouvi, porém, conversas entre dois moradores de quartos distintos, especificamente os laterais. Tomei cuidado em reparar que as duas portas que não eram do meu quarto estavam fechadas, provavelmente trancadas. As conversas que ouvia vinham da porta do primeiro quarto lateral, sem dúvida aberta.

Um fato curioso sobre a segunda porta interna: ela abre-se apenas momentaneamente, quando um ou ambos moradores do quarto precisam de algo no banheiro ou na cozinha. Encerrada a atividade, fecha-se a porta novamente, com o acréscimo de um ou dois giros de chave na fechadura, para que ela de fato se confirme impedida de abrir.

Observei que, depois de meses de portas abertas, algumas começaram a se fechar e assim permanecer. A minha própria partilhou essa conduta, depois de algum tempo, e só após uma certa reflexão voltou-se a abrir. A intimidade se compartilha, verdade, mas a coletividade não se poda. Quem passa vê, interage, mesmo que silenciosamente. Tão inspirado por essa liberdade estava ontem que até esqueci de me trancar no escuro do meu quarto.

Lá, com meu sanduíche de queijo e margarina, entendi que uma porta fechada não é apenas um bloqueio de espaço geográfico, é antes um espaço de convívio humano que se perde. Toda porta fechada é um "não", um impedimento ao livre fluxo, barreira que só é vencida através da vontade de algo mais. É verdade que posso ser negado e ainda assim suceder, como também se faz verídico o fato de que demanda mais esforço superar barreiras.


Eu prefiro a fluidez das portas abertas.


sábado, agosto 14, 2010

Caminhos tortos

Fico em dúvida se eu escolhi enxergar a vida de forma diferente dos demais viventes ou se, no fim das contas, não havia chance de ser diferente. Existem situações que eu gostaria de evitar e outras que eu amaria proporcionar, mas tenho certeza que não é nada fácil. Vim aqui apenas para reclamar um pouco da vida, em outro momento faço um resumo de como está minha vida...

quinta-feira, julho 29, 2010

Imaginando

Algumas vezes me pego imaginando muito mais do que vivendo. Mmmm, vou repensar essa frase, pois se a vida sou eu, como posso dizer que ficar preso em mim mesmo não é viver?

terça-feira, julho 27, 2010

O que é o amor?

Todas as manhãs desde que cheguei de viagem sou acordado com minha mãe abrindo a porta e me trazendo um prato com algo para morder, uma fruta, um pote de iogurte e uma xícara de chá. Um café da manhã gostoso e prontinho, sem nenhuma desculpa para que eu não me alimente adequadamente. Ela faz isso absolutamente todos os dias, sem exceção.

Alguns anos atrás, quando me levava para o colégio e já morava com a gente, meu padrasto sempre se adiantava na cozinha, enquanto eu tomava banho, e fazia uma batida e torrada. A fruta que acompanhava o leite algumas vezes variava, e quando isso acontecia eu era questionado se gostava ou não. Caso não fosse da minha preferência, a batida era feita com frutas mais tradicionais. Acontecia também todas as manhãs.

Um certo dia eu estava irritado com meu ex-namorado, ambos deitados na mesma cama de solteiro aqui em casa. Levantei, de manhã, e fui para a cozinha fazer um café da manhã. Para os dois. Trouxe na cama, um pão e algo para beber, acho que suco (hei, não esperem de mim muita elaboração no início do dia). Esse exemplo não acontecia todos os dias, até porque as oportunidades de passar manhãs com ele não eram muito frequentes, mas o contexto serve aos meus propósitos.

O que é o amor?
Que coisa é essa que faz com que minha mãe acorde cedo e faça o café da manhã de um garoto a quem esse substantivo não serve mais? Por que razão sentimos saudade de quem está longe, especialmente quando é alguém que nos tocou de alguma forma? O que explica isso?

Estive a pouco discursando imaginariamente para os favoritos.
Esse não é um termo que eu queira continuar usando, embora tê-lo me aqueça um pouco, considerando que nunca tive grupos muito bem estabelecidos de relações de amizade. Já tive o Grupo do Tales, de RPG, mas o que nos unia não era exatamente os laços de sinceridade e confiança, mas sim os dadinhos em cima da mesa e as fichas de papel. Nos tempos de escola eu vivia arisco demais para aproveitar as pessoas e tudo que elas me ofereciam, então também não tinha nenhum ajuntamento de pessoas.
Chamo os três (e agora muito bem posso considerá-los quatro) desta forma não apenas por serem as pessoas com as quais tenho mais contato físico hoje em dia, quando estou na cidade, mas também por serem as criaturas com as quais falo de absolutamente qualquer assunto sem ter muito pudor. Comentei sobre as especificidades das doenças que eu tinha quando cheguei de Goiânia, falo sobre o que faço ou deixo de fazer no sexo, discuto opiniões que podem machucar outras pessoas. Isso tudo somado ao gostar, gostar muito.

Pois então, como eu escrevia, estive imaginando um discurso aos favoritos. Algo sobre o quanto eles são importantes pra mim e justificam meu retorno a Porto Alegre, o enfrentamento desse climinha chato e os dias afastados da vida nova. É importante marcar que estou muito feliz com minhas experiências no Centro-Oeste, e que voltar a Porto Alegre tem um duplo papel: por um lado, mata a saudade, mas por outro parece um certo retrocesso. São eles, porém, que fazem valer a pena o investimento de tempo que estou operando aqui. São eles que me ensinaram, cada um do seu jeito, o que é gostar (por que não dizer amar?) uma pessoa com a qual não temos nenhuma obrigação. São meus amigos, me ouvem, conversam comigo, se preocupam e eu também me preocupo.

Cada um a seu jeito, somos diferentes. Distintos do todo. Porém, também cada um a seu jeito, somos parecidos uns com os outros. Temos nossas cores, navegamos num mar de cinzas. Talvez seja isso que nos una, talvez seja por isso que juntos demos tão certo. Ou daremos. Enfim, segue sendo minha missão reunir as pessoas, tocar algumas vidas e mudá-las para sempre =)

segunda-feira, julho 26, 2010

Férias acabando

Eu estou um pouco confuso com meus sentimentos dos últimos dias. E noites, principalmente. Tem algo a ver com obrigações que não foram assumidas por mim e também com escolhas envolvendo outras pessoas. Passei os últimos dias meio carente, querendo certezas. Uma bobagem, é claro, considerando que só se está certo o que já foi.

Talvez eu esteja, mesmo, chegando perto daquela dependência de alguém para quebrar o gelo. Não foi a primeira vez, hoje, que ouvi alguém me dizer que preciso ser menos racional e abraçar o mundo com o que ele me oferece e deixar o sentimento fluir. Nhai.

terça-feira, julho 20, 2010

Férias julinas

Não estou correspondendo às expectativas que meus professores têm sobre mim. Entrei no mestrado como uma aposta, uma possibilidade de sucesso, mas não uma garantia de não-fracasso. Mais do que os outros, preciso provar que meu aceite não foi um erro. Ninguém disse "Tales, estamos decepcionados". Ainda. Só que vai acontecer, tenho certeza, já que não estou lendo quase nada. Hoje chegou um livro que encomendei. Detalhe: comprei seis, cinco ainda estão a caminho. Livros enormes, densos, com textos fundamentais para os meus estudos. Como darei conta deles, se nem estou conseguindo lidar com os que trouxe lá de Goiânia? E o tempo para procurar livros que tenham aqui e lá não, onde fica?

Eu sei a razão das minhas falhas, eu estou preenchendo uma lacuna que a viagem abriu. Uma certa saudade de viver o tempo inteiro com pessoas que eu amo. Lá em Goiânia estou começando a estabelecer contatos que, imagino, em breve me farão suspirar também, mas como fico enquanto isso não acontece?

Estudando teoria queer e batendo de frente com paradigmas obsoletos da educação, cada vez mais eu me deparo com a ideia de que certezas não estão aí para me ajudar. Por outro lado, dia após dia eu sinto que preciso menos de questões e mais de linhas retas. Curvas são muito boas, muito úteis, mas elas cansam, machucam, perturbam. Preciso de uma certa calmaria para sentar e ler, ou será que não?


Não estou triste por alguma ausência, sabe? Tenho sexo, tenho amigos, tenho festas, nada disso me falta em Goiânia. Claro, não é a mesma coisa que Porto Alegre, isso é evidente, mas mesmo assim fica aquela vontade de encontrar, no fim do dia, um abraço sincero, gostoso e que faça tudo desaparecer, mesmo que por alguns instantes. O que eu preciso fazer pra me soltar desse jeito? O que está segurando minha energia de forma tão contínua?

domingo, julho 18, 2010

Noites no futuro

Hoje fui na casa do meu ex-vizinho (ele ainda mora próximo da minha casa, mas casou e mudou-se com a esposa) junto com meu irmão, minha cunhada, minha tia, minha mãe e meu padrasto. Fomos comer fondue e beber vinho, para olharmos as fotos do casamento, ocorrido ano passado (ou início de 2010, não tenho certeza).

Com quem estarei comendo fondues nos domingos chuvosos do futuro? Quem serão meus amigos, meus convidados, quem estará abraçado comigo recebendo pessoas? Até imagino, mas não sei onde estarei, quem conhecerei, que pessoas terão se perdido pelo caminho. Nem quão longo este será.
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